Chico Buarque e a Revolução dos Cravos

 

 

 

Entre 1933 e 1974, Portugal viveu seu Estado Novo. Foi o período em que o país esteve governado pela ditadura do presidente Antônio Salazar e seu partido União Nacional, de inspiração fascista. Ele governaria até sua morte, em 1970, sendo sucedido por Marcelo Caetano, que seria deposto pela chamada Revolução dos Cravos, em 1974. Portugal permaneceu isolado e atrasado em relação ao resto da Europa ao longo do Estado Novo.

 

Ainda que tenha se mantido neutro na Segunda Guerra Mundial, conservando suas cidades e parque industrial, isolou-se numa política de defesa e privilegiou o comércio com suas colônias africanas, mantendo-se na contramão da lógica de descolonização empreendida pelos países europeus, que já não eram capazes de manter colônias ultramarinas e frear as ondas de libertação que vinham delas.

 

Vivendo um regime restritivo, sem eleições em todas as instâncias, vendo as poucas que haviam serem manipuladas pela máquina administrativa, a população portuguesa parecia apática até que militares de baixa patente começaram a tramar o golpe. Ainda que a presença de Marcelo Caetano no poder tenha significado um mínimo afrouxamento, ele terminou deposto pelas tropas militares em 1974, havendo a promulgação da nova constituição em 1976, de natureza socialista, que oficializou a independência das colônias africanas, extinguiu a polícia política, que treinara com a Gestapo e a CIA ao longo dos tempos e colocou Portugal, com décadas de atraso, no mapa da Europa. Marcelo Caetano foi para o exílio e o governo militar brasileiro o acolheu.

 

Em 1975, Chico Buarque gravou “Tanto Mar” como uma saudação à Revolução dos Cravos, mas teve a letra vetada pela censura, restando apenas o registro instrumental no disco gravado ao vivo, com Maria Bethânia, sendo lançada completa apenas em Portugal. Ele regravou a canção com letra modificada em 1978, que se tornou um sucesso, no famoso “disco da samambaia”, soando como um libelo de esperança por tempos democráticos também por aqui.

 

Detalhe: o mesmo Chico havia sido censurado em Portugal em 1969, quando vivia exilado em Roma por conta da ditadura civil-militar brasileira. Ou seja, os dois regimes eram plenamente sintonizados.

 

Célula Pop vem comemorar os 47 anos da Revolução dos Cravos, completados hoje, dia 25 de abril de 2018.

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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