Pump Up The Jam – faixa a faixa
Vocês tanto pediram que fiz um faixa a faixa de Pum Up The Jam, o debute fonográfico do Technotronic, bombasticamente lançado em 1989. O disco, responsável por lançar, no Brasil, um gênero musical das pistas de dança, o “poperô”, é cravejado de hits que tomaram de assalto as paradas mundiais.
Sucesso interplanetário.
Não importa sua idade, você certamente já ouviu ressoando sonicamente por aí, nas quebradas, tirambaços como “Get Up”, “Move This!, “The Beat is Technotronic” e, é claro, a poderosa e irresistivelmente aderente faixa-título. O clipe de “Pump Up The Jam”, aliás, é um dos vídeos musicais mais assistidos no YouTube, com mais de 150 milhões de visualizações.
O Technotronic foi formado na Bélgica pelo produtor Jo Bogaert, em 1988, juntamente com Mc Eric e a genial vocalista congolesa-belga Ya Kid K (seu nome verdadeiro é Manuela Kamosi), à época ainda menor idade, um dos motivos pelos quais, no clipe, quem parece cantando é a modelo africana Felly Kilingi, que não sabia ao menos uma palavra de inglês.
Pulsante, divertido e cheio de vida e dança, suor, êxtase e ouriço Pump Up The Jam – não há dúvida, mais legal que qualquer disco do Radiohead – conjura, com maestria, estilhaços de acid house, música eletrônica, dance-pop, euro e new beat, EBM, udigrudi e mais uma caçamba de caleidoscópicas sonoridades para dar vida a um dos mais urgentes artefatos da história da dance music.
PUMP UP THE JAM
Faixa de abertura que alcançou o topo das paradas e hit obrigatório para qualquer danceteria, até hoje. Uma curiosidade é que a faixa foi toda produzida pelo Rei do new beat e da EBM Patrick de Meyer (o cara do Tragic Error). Meyer fez os arranjos, teclados, os synthies, enfim tudo. Porém, não levava fé que fosse fazer sucesso e, assim, permitiu que Bogaert ficasse com o crédito sozinho. Mas o single, nitroglicerina pura, estourou e Patrick, que não é bobo, entrou numa batalha judicial e venceu. Hoje é o proprietário dos milionários direitos de “Pump Up The Jam”.
GET UP (BEFORE THE NIGHT IS OVER)
Segundo single e, bingo!, não foi diferente em relação ao sucesso do antecessor. Agora já é público: quem canta é a desencanada Ya Kid K, que, com seu estilo “moleque de rua”, conquistou milhares de fãs.
TOUGH
Lembra facilmente o hit “Beat Dis”, do Bomb The Bass, costurado com “Russian Roulette”, do Zinno. Batidas ultra-mega empolgantes e vários efeitos sonoros.
TAKE IT SLOW
Ganchuda faixa com ataque mais “hip-hop”. Base e vocal bem parecidos com “Buffalo Stance”, de Neneh Cherry.
COME ON
Para quem curte a arte das batidonas.
THIS BEAT IS TECHNOTRONIC
Grito de guerra do Technotronic. Numa palavra: megablaster.
MOVE THIS
Uma das mais legais e envolventes do álbum. No vídeo de “Move This”, Ya Kid, ainda somente uma adolescente, está bem descontraída, com roupas largas e a galera curtindo os passinhos de dança.
COME BACK
Música que, com certeza, foi inspiradora do hit “Everybody Dance Now”, do C&C Music Factory.
ROCKIN’ OVER THE BEAT
Sucesso nas rádios e nas pistas – a base é praticamente a mesma de “Move This”.
RAW
Ritmo totalmente acid house.
WAVE
Patrick de Meyer aqui emula suas influências de Kraftwerk, ao produzir também essa faixa. As batidas lembram muito “Music Non Stop”, do disco Eletric Café, de 1986.
BLUESTRING
Os sintetizadores usados são muito parecidos com os do Pet Shop Boys, numa das canções de feição mais pop do álbum.
Pump Up The Volume: A História da House Music
Incrível documentário produzido pelo Channel 4 do Reino Unido, também em 2001, foi um dos últimos que, lançando mão da expressão timothylearyana, me sintonizaram e não me fizeram “cair fora”. Em duas horas e meia de deleite sonoro e imagético, o doc, que prima pela filamentação, habilmente traça a intricada linha evolutiva da fascinante e revolucionária house music.
Cristiano Bastos é jornalista. Um dos autores do livro Gauleses Irredutíveis – Causos & Atitudes do Rock Gaúcho. Escreveu Julio Reny – Histórias de Amor e Morte, Júpiter Maçã: A Efervescente Vida e Obra, Nelson Gonçalves – O Rei da Boemia e o livro de reportagens Nova Carne Para Moer. Também dirigiu o documentário Nas Paredes da Pedra Encantada, sobre o álbum Paêbirú, de Lula Côrtes e Zé Ramalho. Atualmente trabalho no projeto 100 Grandes Álbus do Rock Gaúcho, que se encontra em campanha de financiamento pela plataforma Catarse:
https://www.catarse.me/100GrandesAlbunsDoRockGaucho