Por que diabos bolsonaro não cai?
Eu sempre começo os textos sobre o atual governo da mesma forma: não lembrando de um paralelo na história do país para defini-lo. Nem em collor, nem em janio quadros, nem nos generais-presidentes, talvez nem na República Velha. Estamos diante do pior governo da nossa existência. O mais injusto, truculento, lamentável e impiedoso. Se não há a suspensão dos direitos individuais – como houve com o AI-5, que também viabilizou a caça e extermínio gradativo de opositores institucionais e de fato – a administração bolsonaro reúne elementos inacreditáveis, que traduzem o que há de pior e mais terrível na sociedade brasileira. E, diante disso, vem a pergunta: por que diabos bolsonaro não sofre um impeachment?
Há relatos de juristas que dão conta de dezenas de crimes de responsabilidade já cometidos por ele pessoalmente ou no “desempenho” de sua função. Suas declarações vão além do plausível, ou seja, como assim ele não é deposto? É triste e simples de explicar.
O governo bolsonaro é um governo de desmanche. Sua função, por mais paradoxal que seja, é atacar o Brasil. Ele faz isso em âmbito interno e externo, todos os dias. Seja destruindo nossa imagem lá fora, derretendo o que foi conquistado a duras penas por governos anteriores, que tentaram nos apresentar como um país vigoroso, jovem, com potencial para desenvolver, habitado por um povo peculiar e cheio de riquezas de todos os tipos. O que o atual governo faz é nos mostrar como um enorme terreno baldio, loteado pelos Estados Unidos, que podem vir aqui e fazer o que quiserem. Sucessivas concessões foram feitas aos americanos em vários campos da economia, atrelando o Brasil à potência do Tio Sam de forma vergonhosa. Projetos em várias áreas da economia e da ciência, passando por desenvolvimento de técnicas para exploração de petróleo à venda de aviões militares com tecnologia nacional, foram desmantelados pelo governo. Não é por acaso, gente.
E o que dizer do trato com o meio ambiente? Lembro de quando as pessoas martelaram governos anteriores por conta da reserva Raposa Serra do Sol, no norte do país. Aquilo era brincadeira de criança inocente diante do que vemos diariamente no Pantanal, na Amazônia. O ataque sucessivo às políticas de preservação em nome do favorecimento do agronegócio, um dos sustentáculos do próprio governo. O ministro ricardo salles é o responsável direto por empreender uma política que ataca o meio ambiente brasileiro e ele segue firme à frente do cargo.
Sem falar no ataque velado ou explícito a pobres, negros, LGBTQ, livres pensadores, funcionários públicos, professores, ao ensino público, à saúde pública, às instâncias de proteção social… Tudo o que sustenta/sustentaria o povo mais pobre do Brasil está sob ataque deste governo.
Sendo assim, por que, eu repito, bolsonaro não cai?
Afinal de contas, Dilma caiu, certo?
Sim. Dilma caiu porque seu governo era o oposto desta visão de mundo. Ela tentou defender essas instâncias do ataque das mesmas pessoas que estão por trás do governo atual – e do governo temer – a elite brasileira, representante do sistema financeiro internacional e da lógica neoliberal, que visam proteger a atual divisão de forças e poderes em nível global. Quem ousasse desafiar tal posicionamento – seja com pré-sal, com cotas, com novas universidades públicas, com um SUS forte – deveria ser apeado do poder.
Dilma tentou governar sob pressão. Cedeu ao colocar um ministro neoliberal à frente da economia, achou que poderia contê-lo mas não esperava ser impedida de governar pela ação do criminoso eduardo cunha à frente do Congresso. Lembram das pautas-bomba? Do bloqueio sistemático a projetos do governo contra a corrupção, contra o desemprego crescente? É bom lembrar. E precisaram encontrar nas pedaladas fiscais a única razão para dar início a um processo de impeachment que já está entre os momentos mais lamentáveis da nossa existência como país.
E os porta-vozes desses poderosos que hoje apoiam o governo bolsonaro estavam com aécio neves, o candidato derrotado em 2014. Era dele a missão de colocar em prática este ideário anti-povo que estamos vivendo hoje. Só que aécio seria mais delicado, menos truculento, um integrante “ilustrado” da direita neoliberal nacional. Como ele foi inviabilizado por conta de vários crimes de corrupção, ao contrário de Dilma, que jamais cometeu um delito sequer, a elite nacional precisou se contentar em aliciar temer, que substituiu a presidente e iniciou o desmanche do país.
O próximo passo era inviabilizar uma candidatura progressista em 2018. Prenderam Lula sem provas.
Diante do esvaziamento de candidatos “ilustrados” da direita, a saber, Alckmin e Meirelles, a elite nacional não viu outra escolha a não ser apoiar bolsonaro como a única força alinhada ideologicamente com ela e com chances de vitória. Deu no que deu.
Afinal de contas, bolsonaro tem no ministro paulo guedes a figura focal de sua administração, aquela pessoa que mantém o desmanche nacional, coloca dos trabalhadores de joelhos ao atacar seus direitos, erode a economia em meio a medidas que nunca surtem resultado e que trazem de volta a inflação e a fome.
Lembremos que bancos, grandes conglomerados e empresas multinacionais não são afetados por este tipo de crise, pelo contrário. Os bancos lucram como nunca, as igrejas neo-pentecostais – apoiadoras do governo – acolhem os desesperados e os levam para um grande moedor de carne e, pior que isso, o estado, enfraquecido e desautorizado, dá espaço a grupos armados que cercam as cidades e estabelecem suas próprias leis.
Em 2020 este governo foi coerente em seu jeito de lidar com a covid-19, ou seja, sem qualquer preocupação com o brasileiro mais pobre. É só lembrar das inúmeras aparições do atual ocupante da presidência na mídia, dizendo que não podia fazer nada, que não era coveiro. E lá se vão quase 210 mil mortos.
Enquanto bolsonaro e paulo guedes continuarem a desmanchar o Brasil e soterrar qualquer chance de reerguimento, eles ficarão lá. Estejam certos disso.
É triste, eu sei.
Cobrem dos 57 milhões. E dos que não se dignaram a dar as caras nas urnas em 2018. Eles são os responsáveis diretos por esta situação e têm as mãos sujas por toda a eternidade. Sujas de sangue.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.
Esqueceu do governo Dutra?
57 milhões de pessoas mesquinhas e binárias como esse traste. O rebotalho da escória. Era de dar desânimo, se não desse muita raiva.
Cadê a gentalha que dizia “não tenho político de estimação”?