Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs – Viscerals

 

 

Gênero: Heavy Metal, alternativo

Duração: 38 min.
Faixas: 8
Produção: Sam Grant
Gravadora: Rocket

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

Se você está com muita raiva da pandemia…Se você está com raiva dos produtivos durante o isolamento…Se você está simplesmente com raiva…
Se você está com mais raiva do governo federal, sua inoperância, seu descaso e sua burrice intrínseca, talvez eu tenha uma boa notícia para “acalmar” sua alma. “Viscerals”, o terceiro disco dos ingleses do Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs (ou, sintetizando, Pigsx7) chegou para sonorizar este inesperado momento de fim de mundo. Não adianta viver pelas regras, de vez em quando a gente precisa extravasar e esta é uma boa oportunidade.

 

O Pigsx7 é de Newcastle Upon Tyne, norte da Inglaterra, e oferece uma proposta interessante para o ouvinte: trazer uma sonoridade que é derivada tanto das matrizes soturnas do Black Sabbath original quanto das bandas de stoner rock dos anos 1990, misturando tudo numa air fryer estilística, na qual há alguma preocupação estética com as afinações das guitarras, os vocais, a produção e uma certeza psicodelia pós-moderna, que tempera de atitude e relevância a obra do grupo. O resultado é este salgadão de rua, simples, direto, mas com algum rebuscamento importante em tempos de competição mercadológica e estética. Como disse meu amigo Marcos Bragatto, o resultado é “um atropelamento”.

 

Não é uma sonoridade fácil, mas ela está longe de ser recomendada apenas para fãs de metal tradicional. A criatividade é o forte do Pigsx7, algo que já se nota na saudável mania dos caras de fazer canções enormes. A melhor faixa do álbum tem nove minutos – a ótima “Halloween Bolson – que se dobra em refrãos abortados, efeitos de eco, riffs que se atiram contra as paredes do cenário de “Jogos Mortais”, tudo ao mesmo tempo, oferecendo mil possibilidades ao ouvinte. No fim da canção, um saudável anda-e-para em câmara lenta, coisa surpreendente e bacanuda. O formato de canções enormes era o preferido do grupo quando surgiu, há alguns anos. O disco anterior, “King Of Cowards”, já mostrava uma redução na duração das faixas, algo que ficou dominante agora.

 

Há várias formas de vivenciar a experiência de “Viscerals”. As faixas mais curtas têm espaço para ótimas linhas de baixo de John-Michael Hedley, caso específico de “Hells’s Teeth”, que soa como se fosse um mamute com leveza nas patas. “Reducer” e “Rubbernecker”, que abrem o álbum, são outros exemplos dessa fluidez metálica, com ótima bateria de Christopher Morley, que alterna peso e rapidez sem pesar a mão como seria o óbvio. “New Body”, outra canção longa – sete minutos – é mais lenta e enlameada, mas mostra a excelência do diálogo de guitarras entre Sam Grant e Adam Ian Sykes. Fechando a tampa do container, o vocalista Matty Baty é uma revelação e tanto, com seus gritos que surgem do fundo do porão do desespero.

 

Certa vez mostrei uma lista de canções que havia salvo num dispositivo de mp3 e ela me disse que faltava algum disco de peso, um Anthrax, um Slayer, algo assim. Confesso que nunca me dei bem com esse tipo de música, mas a psicose urbana e caótica do Pigsx7 é muito mais simpática. É aquele tipo de obsessão que eu teria. De boa. Ouça e torça pela cabeça dos vilões explodindo diante das câmeras da TV.

 

Ouça primeiro: “Halloween Bolson”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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