O Preço da Verdade – Dark Waters

 

 

Está em cartaz um ótimo filme baseado em fatos verídicos: “O Preço da Verdade” (“Dark Waters”), é uma produção de Mark Ruffalo, que também estrela o longa, no papel do advogado Rob Billot. É um desses filmes tensos, de tribunal, mas que duram a maior parte do tempo na apuração e levantamento de provas e fatos, compartilhando com o espectador todo o conhecimento que vai sendo revelado. E isso nos torna parceiros da empreitada, aumentando nossa empatia.

 

No caso do filme, não é difícil ter empatia pelo advogado Billot, sócio minoritário recém-promovido de um escritório especializado em defender empresas do ramo químico. Ele recebe o pedido de um fazendeiro, que está vendo sua terra se tornar infértil e seu gado morrer doente sem ter a menor ideia do que se trata. Veterinários não sabem dizer o que acontece com o rebanho, apenas ficam espantados com os sintomas e resultados. E Bilott, relutante a princípio, especialmente por conta dos interesses conflitantes, vai ver do que se trata. Uma olhada bem superficial mostra que o terreno do tal fazendeiro é vizinho de uma fábrica da toda-poderosa Du Pont, uma das maiores empresas químicas do mundo.

 

Dividido, em conflito, Bilott decide averiguar e vai se dando conta de uma sucessão interminável de violações das diretrizes do meio ambiente, bem como uma conspiração para que estes limites sejam afrouxados e/ou medidos pela atuação da própria empresa. Os fatos vão surgindo em grande número, o que vai conduzir a ação de Bilott, levando-o a entrar em choque com seus colegas, esposa, poucos amigos e até mesmo o povo de sua cidade natal. Aos poucos, o que parece ser uma verdade inquestionável e incontestável vai ganhando novos contornos, desembocando num desfecho contundente.

 

Mark Ruffalo tem boa capacidade de interpretação e consegue convencer como o retraído advogado, enquanto Anne Hathaway, ótima atriz que é, dá ao papel de Sarah, esposa de Bilott, uma profundidade convincente. Numa atuação discreta, mas marcante, Tim Robbins surge como o chefe de Rob Bilott, desmontando tudo e todos com uma fala sobre o desejo das pessoas diante de uma empresa que viola as leis de forma repetida e a passividade delas em face à contundência das provas obtidas ao longo da investigação.

 

No comando de tudo, Todd Haynes, diretor seguro e talentoso, leva o filme como um longo e bem feito documentário sobre o drama da justiça, da política e da sociedade aprisionadas pelos aspectos econômicos, levando as pessoas a adotar atitudes e condutas questionáveis. E a julgar os que tentam modificar tal quadro de apatia e submissão por achar que, sim, aquilo está errado e merece ser corrigido pela justiça.

 

O que era pra ser um filme de tribunal simples, ganha contorno e profundidade maior do que o normal, algo que é complementado pelas ótimas atuações do elenco, com direito até a Bill Pullman interpretando e mandando bem como um advogado do interior da Virginia Ocidental.

 

Divertimento que é quase compromisso num país em que a lei se coloca docilmente ao lado do poder.

 

 

Dark Waters, EUA, 2020

De: Todd Haynes

Com: Mark Ruffalo, Anne Hathaway, Tim Robbins

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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