O Maroon 5 negacionista

 

 

Maroon 5 – Jordi

Gênero: Pop alternativo

Duração: 43 min.
Faixas: 14
Produção: Blackbear, Andrew Goldstein, The Monsters and the Strangerz, Ryan Ogren, B HAM, German
Gravadora: Interscope

1 out of 5 stars (1 / 5)

 

 

 

Fui resenhar este novo disco do Maroon 5 pensando: “ora, quem ainda liga para esses caras?”. Daí vi a performance dos singles de “Jordi” que foram lançados até agora: “Beautiful Mistakes” tem 154 milhões de execuções. “Nobody’s Love” ostenta pouco mais de 122 milhões e, bem, “Memories”, o primeiro single a ser lançado, tem …UM BILHÃO, CENTO E OITENTA E QUATRO MILHÕES de execuções, lembrando sempre que estes números são do serviço de streaming que eu uso. Sendo assim, minha teoria foi desqualificada logo na origem da resenha, o que me dá uma outra dimensão do que significa um lançamento como este. É muito dinheiro, muita exposição, muito acessório e pouco principal, que, ainda acredito, é a música. Pois, se é isso que você espera encontrar por aqui, esqueça. “Jordi” é qualquer coisa, menos um disco, muito menos um disco do Maroon 5.

 

Batizado em homenagem ao empresário da banda, Jordan Feldstein, morto precocemente de ataque cardíaco aos 40 anos, “Jordi” traz uma sonoridade que soa plástica e derivativa até para os padrões estabelecidos pelo próprio grupo. A gente lembra, o Maroon surgiu em 2003, com um disco interessante, chamado “Songs About Jane” que, se não era grandes coisas, tinha dois hits dourados: “Sunday Morning” e “Sweetest Goodbye”. Desde então, Adam Levine e seus amigos foram permitindo cada vez mais pop no pop-rock que faziam, sempre com resultados que significaram a adesão de mais fãs e a perda de respeito crítico, mas, sempre com um limite estabelecido de não mergulhar completamente no pop mais deslavado e sem cara. Por pior que alguma canção parecesse, ela sempre teria a face do Maroon 5 e assim foi com sucessos massivos como “Moves Like Jagger” ou “Sugar”. Uma audição do trabalho anterior, “Red Pill Blues”, no entanto, já mostrava que o passo dado em “Jordi” era iminente.

 

Significa dizer que o Maroon 5 ficou ainda mais insípido, ainda mais sem graça, ainda mais oportunista, mesmo para uma banda que sempre se dispôs a fazer um pop com o mínimo de personalidade. Perto das canções registradas neste novo álbum, “Moves Like Jagger”, que é pop até à medula, soa como se fosse de Jimi Hendrix. Até o manejo dos instrumentos, que dava à banda alguma cara distinguível – principalmente ao vivo – foi substituída por uma maçaroca eletrônica de baixíssimo impacto, que parece programada ao acaso. A maioria das canções de “Jordi” parece sob encomenda para alguma inteligência artificial compor e produzir. Adiciona uma camada a mais de irritação, uma vez que, não bastasse a impressão da plasticidade total, a safra de canções é péssima.

 

Pra não dizer que o álbum é uma perda de tempo maior do que já é, dá pra salvar duas faixas do desastre absoluto: “Lovesick”, que é piloto automático total, mas tem uma batida oitentista dançante que pode fazer efeito se o seu parâmetro for baixo. E “Convince Me Otherwise”, com participação da ótima H.E.R, que dá sentido à canção. O resto, com destaque para a lamentável presença de Stevie Nicks, engolfada pelos chips e wi-fis em “Remedy”, é lixo tóxico da pior espécie, no melhor estilo canudo de plástico entalado no pescoço de tartarugas marinhas bebês no Atol das Rocas.

 

“Jordi” é péssimo. Se ainda existisse inimigo oculto, seria o melhor presente possível para você ofertar a uma pessoa desprezível. Como não tem, nem pra isso ele vai servir.

 

Ouça primeiro: prefira e valorize o silêncio

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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