O GPS Político de Gabriela Prioli

 

 

Há muita gente que não gosta da apresentadora da CNN Brasil e advogada paulistana Gabriela Prioli. Muitos pensam que ela é liberal, que ela é “barbie fascista” disfarçada de espertinha ou que – pasme – que ela é bonitinha demais para emitir opiniões sérias sobre política (o que constitui uma das mais lamentáveis e tristemente banais demonstrações de machismo, como se uma mulher bonita só pudesse ser … bonita). O fato é que Gabriela tornou-se uma voz com bom potencial de penetração no cenário dos youtubers brasileiros e seu trabalho é bem sério. Ela também se tornou uma opositora do governo federal de forma bem explícita, falando linguagem simples e procurando esclarecer pontos controversos da política e da economia. Aos meus olhos e ouvidos de historiador e jornalista, seu conteúdo é bem sério e de valor. Ela não chama ninguém para a revolução de classes, mas dá pra entender vários processos políticos através de suas explicações. Além dos vídeos semanais, ela lançou uma série de episódios há poucas semanas com o nome de “GPS Político”, que, desde já, é uma ferramenta muito valiosa para entender quem é quem nas lideranças políticas do Brasil.

 

Dentro desta série de vídeos, Prioli já entrevistou Guilherme Boulos, Kim Kataguiri, Fernando Haddad, Rodrigo Maia e Ciro Gomes, sempre com uma pauta fixa e procurando deixar o entrevistado falar o máximo possível, para que ele mostre ao espectador quais suas convicções políticas de ideológicas. O ponto de partida para as entrevistas é com o interlocutor se posicionando em uma “régua ideológica”, na qual ele define o seu espectro de convicções. As medidas vão das extremas – direita e esquerda – passando por pontos intermediários, nos quais estão contidos posicionamentos sobre o papel do estado e o quanto de preocupação deve haver com a desigualdade. Uma vez definido o posicionamento – sempre com a ênfase de que esquerda e direita não são conceitos ultrapassados, mas que passaram por ressignificações ao longo do tempo – Gabriela inicia a entrevista e segue o mesmo caminho lógico de perguntas. No fim das contas, é possível comparar as respostas dos diferentes participantes para as mesmas questões, o que é algo muito valioso.

 

Em seus vídeos, Gabriela usa o bordão “agora é hora de menos emoção e mais razão”, para pedir aos espectadores que deixem de lado as convicções políticas mais exacerbadas e ouçam uma “versão isenta” dos fatos. Tal fala irritava um pouco os comentaristas mais críticos mas, em tempos como os atuais, ela se tornou uma sincera maneira de prevenção no que diz respeito aos defensores do atual presidente. Tal posicionamento também levou Prioli para uma interessante posição de ataque ao bolsonarismo, algo que ela não fazia nos seus primeiros vídeos. É interessante ver como sua posição de neutralidade jornalística vai cedendo espaço para uma indignação sincera, não só com a postura política do presidente, mas como suas estratégias são cheias de intenções que visam distrair/enganar as pessoas das questões que realmente importam. Por exemplo: em vídeo recente, Gabriela se refere a este comportamento recorrente do ocupante do Planalto, procurando tirar as atenções das investigações da CPI da covid-19 com a velha retórica do voto impresso.

 

Ela diz com todas as letras: “bolsonaro está enganando você que é apoiador dele, já está na hora de você refletir sobre esta postura”. Em vídeo postado no dia 20 de maio, ela faz um comentário detalhado da primeira entrevista do general pazuello na CPI, mencionando explicitamente que os ministros do governo são incompetentes, que sempre transferem suas culpas para os outros, que o ex-chanceler ernesto araújo era contundente nas redes, mas que ficou mansinho no depoimento e que o filho 02 do ocupante da presidência, supostamente um conselheiro da política externa nacional, tinha experiência internacional porque, “todos sabemos, já fritou hamburguer nos Estados Unidos”.

 

Em tempos como os nossos, é bom termos uma pessoa como Gabriela Prioli nas redes. Seu canal já tem quase 700 mil seguidores e seus vídeos são vistos e compartilhados por muita gente. Os comentários oscilam entre elogios – a maioria – e críticas mal educadas, às quais ela responde com mais e mais vídeos e aparições. Sua conta no Instagram tem um milhão e oitocentos mil seguidores e, além dos vídeos e chamadas para suas participações na CNN, ela incentiva a leitura com divulgação de links interessantes.

 

Podem falar o que quiserem, a menos que haja prova muito contundente, Gabriela é uma figura importante na difícil tarefa de esclarecer pontos de vista, informar com isenção e compromisso com métodos sérios e dignos. Seu trabalho merece elogios e quantos mais seguidores for possível.

mação e pelo conteúdo de boa qualidade, Gabriela Prioli faz trabalho sério e ajuda a decifrar a política em tempos trevosos.

 

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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