Música das ruas para as telas

 

 

Antes da pandemia, as ruas da cidade do Rio de Janeiro viram crescer, de forma múltipla e natural, o movimento das chamadas bandas de rua – artistas dos mais diversos estilos passaram a ocupar espaços públicos para transmitir arte, cultura e muita música autoral, de forma democrática e gratuita.

 

Com este mesmo espírito, só que agora pelo YouTube, estreou a primeira edição do festival Yes, nós temos Jazz, com uma seleção de músicos que, até o isolamento social, disseminavam, onde fosse possível, a diversidade musical carioca, ampliando o alcance do gênero musical.

 

“Queremos compartilhar esse legado musical e manter viva a memória de um fenômeno que brotou das e nas ruas da cidade, mas também fortalecer o jazz brasileiro e outros gêneros que, de alguma forma, se conectam a ele”, explica Rodrigo Furtado, produtor e idealizador do festival.

 

Ao promover um evento ao vivo, gratuito e online, Furtado também ajuda a desmistificar a associação que alguns (ou muitos?) ainda fazem do jazz com algo elitista, hermético e de difícil empatia. Além disso, o produtor busca lançar novos artistas, em um formato totalmente ajustado aos tempos de agora. “É errôneo pensar que o jazz é uma música elitista. Se observarmos a sua formação nos EUA, vamos constatar que se trata de um ritmo popular – o jazz está para os EUA como o samba está para o Brasil”, diz.

 

 

Multiplicidade

O Centro de Referência da Música Carioca Artur da Távola, na Tijuca, Rio de Janeiro, sediou as gravações de Yumi Park, cantora e compositora de origem sul coreana radicada no Brasil; Josiel Konrad, trombonista, compositor e cantor natural da Baixada Fluminense; Flavia Enne, cantora, compositora, percussionista carioca com álbuns gravados e editados na Espanha; Duo Spielmann-Zagury, formado por Daniela Spielmann (saxofone e flauta) e Sheila Zagury (piano), instrumentistas requisitadas pela fina flor da MPB; Zé Bigode Orquestra, que usa a linguagem do jazz para passear pelo reggae e pelo afrobeat; Choro Novo, que celebra o choro instrumental e seus desdobramentos; Crispy Rio Brass Band, cujo som tem raízes no hip-hop, R&B e funk, com tempero das brass bands dos EUA e da Europa; e El Miraculoso Samba Jazz, quarteto que faz versões de compositores como Jorge Ben, Caetano Veloso, Chico Buarque, Miles Davis, Led Zeppelin e The Doors, entre outros.

 

O evento procura destacar a diversidade do jazz carioca através da curadoria realizada por Henrique Vaz (diretor musical) e Rodrigo Furtado (direção geral), para traçar um panorama eclético e representativo de bandas independentes e de suas obras autorais. O formato online permitiu uma contrapartida para os artistas apresentarem seus trabalhos em uma espécie de live-documentário, com um pouco da história de cada um, suas influências, histórias e curiosidades. A foto que ilustra esse texto é de Paula Monte, e alguns volumes do festival já estão disponíveis no Youtube. Confira:

 

Vol. I – El Miraculoso Samba Jazz – 03/06;

Vol. II – Choro Novo – 10/06;

Vol. III – Crispy Rio Brass Band – 17/06;

Vol. IV – Zé Bigode Orquestra – 24/06;

Vol. V – Josiel Konrad – 01/07;

Vol. VI – Yumi Park – 08/07;

Vol VII – Flávia Enne e Banda – 15/07;

Vol. VIII – Duo Spielmann-Zagury – 22/07.

Celso Chagas

Celso Chagas é jornalista, compositor, fundador e vocalista do bloco carioca Desliga da Justiça, onde encarna, ha dez anos, o Coringa. Cria de Madureira, subúrbio carioca, influenciado pelo rock e pela black music, foi desaguar na folia de rua. Fã de poesia concreta e literatura marginal, é autor do EP Coração Vermelho, disponível nas plataformas digitais.

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