Metronomy e a delicadeza das pequenas coisas
Metronomy – Small World
Gênero: Rock alternativo
Duração: 35 min
Faixas: 9
Produção: Joseph Mount
Gravadora: Because
O Metronomy é um desses grupos que não parecem capazes de fazer discos ruins. Seja em circunstâncias normais, seja emergindo de uma pandemia, os caras mantém a média impressionante de acertos melódicos e fofuras sonoras. Com este “Small World” não é diferente, ou melhor, é, porque este é um trabalho intencionalmente simples e pra cima. A ideia aqui é, a despeito do caos social e global, exaltar aquele otimismo à la Brancaleone que habita cada um de nós – ou que deveria habitar. Num caso ou noutro, a música que o grupo mostra neste disquinho vai te fazer tão bem que periga você sair cantarolando para o porteiro, para o cobrador do busão ou para quem mais cruzar o seu dia de forma totalmente descompromissada. Isso acontece porque o Metronomy, como se diz no jargão do futebol, conhece os atalhos do campo e joga de terno. Tem elegância nas suas canções e sempre dá um jeito de se sair com um refrão irresistível, um gancho melódico que parece já ouvido – e nunca foi – e, mais que tudo isso: equilibra em doses iguais e generosas influências do rock alternativo noventista com pureza pop perfeita e atemporal. Fica difícil resistir, gente.
Joseph Mount, o cérebro por trás da banda, canta, toca, programa e produz, tudo com uma marca bem clara, que se traduz nesse apreço pelas melodias e pelo que elas podem fazer desde que estejam num bom arranjo. E, no caso de álbuns como este “Small World”, dotados de um conceito mais ou menos definido, Mount consegue imprimir uma cara comum às canções, dando a impressão de que são todas parte de uma mesma história, integrantes de um mesmo ciclo de composições. Como dissemos: a ideia aqui é levantar o astral do ouvinte, apresentando a este uma variedade de possibilidades pop-rock que inclui alguns momentos que lembram a doçura do Belle And Sebastian inicial ou mesmo os momentos mais coloridos do Cure fase “Wish”. Tudo isso vem com esta adorável capacidade de soar muito pop e muito alternativo ao mesmo tempo, só que, ao contrário dos outros álbuns, o Metronomy pegou mais leve nos sintetizadores, uma de suas características mais presentes. Sendo assim, a maioria do que se ouve por aqui é envelopada no formato baixo, bateria e guitarra, com bons usos de pianos e alguns teclados. Ou seja, é estrutura de arranjo pé no chão, que enfatiza a belezura das composições.
E, falando nelas, aqui estão algumas das mais bem acabadas pepitas pop que ouvimos em muito tempo. A segunda faixa, “Things Will Be Fine”, lançada como single, é totalmente otimista diante dos perrengues da vida e Mount onversa com você dizendo que “já sentia o peso da vida aos 15 anos” mas que resistiu e foi, ao longo do tempo, vivenciando as etapas do amadurecimento – emprego, família, filhos, realização – enfim, é como se você levasse um belo tapa no ombro e uma boa dose de força. Em “Love Factory”, Mount exalta a lindeza que é estar casado com quem se ama e ser capaz de contemplar o crescimento dos filhos. Foram eles que puxaram o músico do pântano previsto da tristeza e da letargia para moldar um painel que resultasse no álbum e em seu conceito. Deu certo, pelo visto. E tem a dançante e eletrônica “It’s Good To Be Back”, certamente a faixa mais próxima do formato inicial da banda, feita com maestria para o ouvinte dar seus passinhos na pista de dança.
Mas as faixas não facilmente alegres – mas igualmente otimistas – também são ótimas. “Right On Time” parece uma canção de Peter, Bjorn And John, cheia de pianinhos felizes, teclados alegres e vocais dobrados, que fazem a delícia das gravações feitas em vários canais, isso sem falar na bela linha de baixo que percorre a canção de ponta a ponta. “I Lost My Mind” é o máximo que o Metronomy se dispõe a se aproximar da estética de David Bowie, com uma melodia intrincada e arranjo que surpreende quando insere pianos e drama, lá pro fim da faixa. E tem “Hold Me Tonight”, com participação do grupo Porridge Radio, que parece uma cruza de Camera Obscura com The Cure, especialmente no seu final, quando os vocais emulam o timbre do velho Robert Smith em meio a guitarras harmoniosas que cruzam os espaços.
“Small World” também é pequeno – nove faixas e 35 minutos de duração. É preciso, sem tempo desperdiçado, cheio de melodias ensolaradas, simples, alegres e que te pegam no colo. Tudo funciona por aqui, desde a proposta de fazer um álbum feliz e, não só fazê-lo, mas, como consequência disso, oferecer algumas canções próximas da perfeição. Maravilha saltitante.
Ouça primeiro: “Things Will Be Fine”, “Right On Time”, “Love Factory”, “It’s Good To Be Back”
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.