Lana del Rey – Norman Fucking Rockwell!

 

Gênero: Pop, Eletrônico
Faixas: 14
Duração: 67 min
Produção: Jack Antonoff e Lana Del Rey
Gravadora: Universal

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

Nunca é demais avisar: Lana del Rey não é só mais uma cantora bonitinha na parada pop. Há um “conceito” por trás, um pequeno manual de instruções que, como dizem hoje, potencializa, a apreciação de sua música. Lana é um alterego de Lizzy Grant, cantora e compositora, que a usa para expressar desilusão, tristeza e decepção com a juventude americana/mundial. A beleza decadente, as canções lúgubres, os arranjos introspectivos, tudo soa dramático, contrastante , por que não, estranho. Este “Norman Fucking Rockwell!” é seu sexto disco e, só agora, Lana atingiu uma espécie de ápice criativo. Aliás, desde o primeiro trabalho, “Born To Die”, lá de 2012, a moça só faz evoluir em suas ideias e universo próprios.

 

É engraçado atestar a excelência de “Norman…” porque é seu trabalho mais experimental. Eu já tenho simpatia natural por gente que decida ousar e dar asas à imaginação, especialmente num mundo como o de hoje. Lana/Lizzy não tem qualquer medo disso e tais mudanças se dão em duas frentes: a primeira, num abraço a arranjos mais densos, elaborados, que oscilam numa mistura de trip hop e pop, criando climas e passagens muito legais. A segunda se traduz num outro abraço, dado com amor na estética do rock setentista americano, especialmente no cânon do Fleetwood Mac, pegando emprestado nuances, inspirações, ideias que são sutis no todo, mas que aparecem aqui e ali. Stevie Nicks, um dos rostos mais fortes do Mac e da música americana em todos os tempos, é a inspiração por aqui.

 

Lana é uma garota de Nova York sob o sol da Califórnia. Isso lhe confere um certo ar de “estranha” em meio ao clima e ao próprio conjunto de sentidos do Golden State. Ela não se impressiona com as praias, a vida ao ar livre, se a vida fosse um filme de John Hughes, ela seria a menina bonita e esquisita que vem transferida para a escola e assume a posição de mentora intelectual das tramas. E todo esse pacote improvável funciona que é uma beleza por aqui. Lana soltou dois singles antecipando a chegada do álbum. Em primeiro lugar veio “Mariners Apartment Complex”, que já mostrava um cuidado extremo com a melodia e a performance vocal de Lana.

 

Em seguida veio uma das grandes sacadas do disco: “Venice Bitch”, não só pelo trocadilho louvável no título, mas pelos seus nove minutos e meio de duração, roçando o terreno do épico, da aventura inesperada, cheia de alterações de andamento e da prevalência de um instrumental eletrônico ao fim, vencendo a voz e o ritmo hipnóticos da canção. Há muito mais coisas interessantes pelo disco adentro: a cover de “Doin’ Time”, do Sublime, chega com inserções de “Summertime”, dos irmãos Gershwin, mostrando que há, sim, pontes inesperadas entre universos aparentemente estranhos. Além dela, “The Next Best American Record” tem arranjo belo, tanto quanto “The Greatest”, que parece uma balada do Heart regravada.

 

Fechando o disco, outra canção que se supõe épica, pelo menos dentro do universo de Lana/Lizzy: “Hope is a Dangerous Thing for a Woman Like me to Have”, que talvez encapsule muito bem o conceito da coisa toda. Lana é mais do que aparenta e confunde à primeira vista, mas premia os persistentes com uma variante eficaz e elegante da música pop atual. Ouça com atenção.

 

Ouça primeiro: “Doin’ Time”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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