La Casa de Papel 3 – Veredito

 

 

Quando anunciaram a nova temporada de “La Casa de Papel”, pensei com os meus botões imaginários: não precisa, a história fechou direitinho, se houver uma repetição, será, obrigatoriamente, pior e chata.

 

Pois é, eu estava enganado. A terceira temporada, não só é sensacional, como periga ser a melhor até agora. E não foi diferente: praticamente todo o esqueleto narrativo, que fez a série espanhola ser conhecida mundialmente, se repete. Temos um novo roubo, truques mirabolantes, personagens repetidos, fazendo a mesma coisa que fizeram antes. Mas – e isso é o grande mérito aqui – temos muitas diferenças sutis, que dão o tom para que estes oito novos episódios tenham brilho próprio e deixem – ao contrário do fim da temporada anterior – os fãs com um gosto fortíssimo de “quero mais”.

 

Sem spoilers, levando em conta que você já viu as duas temporadas anteriores, temos a presença até dos personagens mortos. Berlim (Pedro Alonso) e Moscou (Paco Tous), reaparecem em flashbacks importantes. Além deles, todos os participantes do assalto e das forças policiais voltam, com algumas adições importantes. Temos novas “cidades”: Palermo (Rodrigo de la Serna), Marselha (Luka Peros) e Bogotá (Hovik Keuchkerian), além de Estocolmo e Lisboa, estas últimas codinomes de Monica Gastambide (Esther Acebo) e Raquel Murillo (Itziar Ituño), que “mudaram de lado” nas primeiras temporadas, e participam ativamente do grupo que vai assaltar uma nova instituição financeira espanhola: o Banco de España. Do lado da polícia, surge uma vilã de fazer inveja aos filmes da Marvel: a inspetora Alicia Sierra, vivida por Najwa Nimri, atriz, cantora e compositora espanhola de ascendência jordaniana. Além do elenco, a produção limou alguns excessos anteriores em favor de uma maior objetividade das ações. Isso fica traduzido especialmente na maior maturidade do grupo liderado pelo Professor (Álvaro Morte).

 

Logo no primeiro episódio surge o motivo para a nova empreitada e ele parece absolutamente forçado e pueril. Se não fosse por esta superficialidade do roteiro, “La Casa de Papel 3” seria perfeita, porque, não só ela é superada pelo brilho do elenco, como a história ganha novos e impressionantes contornos. Digno de nota também é o crescimento da produção em termos orçamentários. Efeitos especiais surge com muito mais realismo, além de belas melhorias nos takes, nas sequências e até na trilha sonora, que passou a incluir canções moderninhas de Primal Scream, Belle And Sebastian e Muse, além de clássicos como “Be My Baby”, das Ronettes; “Who Can It Be Now”, de Men At Work e “Harlem Shuffle”, de Bob And Earl, alem de belas passagens com “Gnosseienne 1”, composta por Erik Satie e com o “Concerto 2”, de Vivaldi.

 

Ao fim do oitavo episódio, surgem eventos-chave que necessitam de complemento imediato, criando assim uma expectativa enorme para a quarta temporada, que já está em fase de produção. Se os roteiristas e equipe conseguirem manter o nível de interesse tão alto, “La Casa de Papel” tem fôlego para mais e mais temporadas. Mas bate um medinho de ver uma série tão legal perder fôlego.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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