Kaytranada – Bubba

 

Gênero: Eletrônico, funk, r&b

Duração: 50 min.
Faixas: 17
Produção: Kaytranada
Gravadora: RCA

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

O produtor canadense Kaytranada – nascido Louis Kevin Celestin – lançou este “Bubba”, seu segundo disco, no sapatinho. Anunciou que o novo trabalho estava quase pronto em 9 de dezembro e, quatro dias depois, desovou esta nova fornada de música sem muito alarde. Quem se precipitou e fez listas de melhores discos do ano, certamente se deu mal. “Bubba” é viciante, não sai dos ouvidos, é um intervalo de 50 minutos de prazer auricular, traduzido pela capacidade de Kay em assimilar, reprocessar e oferecer uma mistureba de hip-hop, soul, funk, r&B, tudo junto, com eletrônica e house, fazendo parecer fácil.

 

O maior elogio que este álbum merece é que ele parece um set de DJ. Aquele tipo de música que o sujeito escolhe, composta quase sempre de clássicos remixados e reimaginados, colocados em sequência, num mix em que batidas, citações, linhas melódicas e fiapos – maiores e menores – são entrelaçados gerando algo novo. Pois o que Kay consegue aqui é fazer música pessoal, autoral, soar como se fosse uma fileira de clássicos setentistas e oitentistas. Há um uso inteligentíssimo de samples, a produção é assombrosamente bem pensada e tudo parece perfeito. Além disso, há um timaço de colaboradores ao longo das canções, dando ainda mais a impressão que estamos diante de um greatest hits de bailes soul/funk, reimaginados para o futuro, que chegou. É um disco de dança, que pode – e deve – ser aproveitado por quem não sabe dançar e se limita a sacar as reviravoltas da produção. Pra quem sabe dar seus passinhos, é o próprio paraíso na Terra.

 

Geralmente eu gosto de destacar algumas canções nas resenhas de discos, até como um guia rápido para quem deseja ouvir os pontos altos de algum trabalho, mas esta ação é bem difícil aqui. A graça de “Bubba” é ser ouvido integralmente, acompanhando a evolução/mudança de uma faixa para outra, notando a habilidade de Kaytranada nos mixes e na escolha de climas que vêm e vão. Apesar disso, dá pra perceber o brilhantismo de alguns convidados pelo disco adentro. Teedra Moss dá um sentimento clubesco a “Culture”, que está lá pelo fim de “Bubba”, com um misto de batidas, teclados em crescente e uma ótima performance vocal. Kali Uchis tem um feeling de diva disco contida em “10%”, num arranjo que lembra algo feito nos anos 1990, já de olho nos clássicos disco setentistas. Belezura de looping histórico-musical.

 

“Taste”, com VanJess, já vai num clima muito próximo da house music, mas com uma luminosidade impressionante, quase soando como um hino raver solar, algo contraditório per se. “Scared To Death” é um instrumental enfiado entre as faixas, com pinta de vinheta casual, mas que usa looping de teclados, climas, batidas difusas e dá uma amostra do talento de Kay como pensador. “Need It”, com Masego, surge como um dancehall otimizado e inserido no contexto, enquanto “Midsection”, a última faixa, é uma pequena apoteose de percussões, samplers de guitarras funky em profusão e a participação de Pharrell Williams, amarrando e dando sentido.

 

“Bubba” é um discaço. Se fosse fácil comprar CD’s nestes tempos, certamente, ele seria adquirido imediatamente e seria colocado ao lado de grandes trabalhos de herois que se dedicam a atualizar a música negra para a modernidade constante. Kaytranada já deixou de ser promessa e tem pinta de campeão. Mas é discreto e quieto: um Bruno Henrique da produção musical.

 

Ouça primeiro: “10%”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

2 thoughts on “Kaytranada – Bubba

  • 5 de fevereiro de 2021 em 15:05
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    Pois é, dentre essas duas que vc mencionou, eu gosto mais de “Freefall”, adoro o sample de teclados e o jeito como tudo se mistura, bando uma impressão borrada de faixa dos anos 1970 obscura enfim revelada. “The Worst In Me” já me soa mais noventista e um pouco menos legal. Mas o disco é todo excelente.

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  • 5 de fevereiro de 2021 em 14:24
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    Descobri esse álbum através da Kali Uchis, ele sintetiza tudo o que me interessa em um álbum. Adorei seu review, só queria que você comentasse “Freefall” e “The Worst in me”

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