Harry Styles – Fine Line

 

 

Gênero: Pop

Duração: 46 minutos
Faixas: 12
Produção: Jeff Bhasker, Kid Harpoon, Tyler Johnson, Greg Kurstin, Mitch Rowland e Sammy Witte
Gravadora: Sony

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

Confesso que nunca ouvi nada da One Direction, boy band da qual Harry Styles fazia parte há até pouco tempo. Tampouco ouvi seu homônimo álbum de estreia, lançado em 2017. Mas este seu segundo trabalho, “Fine Line”, vem hypado e clamando por carinho e consideração. Não se fala de outra coisa na Inglaterra, é Harry Sytles pra lá, pra cá, gente discutindo sobre a sexualidade do sujeito, perguntando se ele é hétero, homo, bi e tudo mais que gira em torno da questão. Também perguntam em quem ele votaria nas eleições da semana passada, que acabaram elegendo o conservador boris johnson: “Voto em qualquer um que seja contra o Brexit”, declarou o jovem, de 24, que não deve ter ficado feliz com o resultado. Bem, este é Harry Styles, lançando seu segundo – e bom – disco.

 

O que ouvimos nas doze faixas é um pop polido e bem gravado. Todas as canções têm ganchos melódicos, boas sacadas nos arranjos e um time de produtores em estado de alerta, chefiados por Greg Kurstin, que já pilotou álbuns de Adele, Foo Fighters e Paul McCartney. Harry tem talento vocal e carisma suficientes para povoar o imaginário dos e das fãs por um bom tempo e já confessou que tudo o que está no disco tem a ver com sexo e tristeza. Ele também disse ter usado drogas psicodélicas para a composição das canções, mas, sinceramente, isso não chega no ouvinte. É apenas pop e eu gosto.

 

A faixa de abertura, “Golden”, é uma cascata de felicidade musical. Tem vocais de apoio que surpreendem o ouvinte, arranjo funky sob controle, boas sacadas de teclados e um clima de animação que já coloca a pessoa pronta para tudo. E o que vem a seguir é feito sob medida para as listas de sucessos e para as playlists de streaming (só no Spotify, Styles já tem mais de 26 milhões de ouvintes). “Watermelon Sugar” é “funky” no sentido Maroon 5 do termo, enquanto “Adore You”, dona de um refrão matador, é um pouco mais complexa e próxima do que se entende hoje por “pop alternativo”, de gente como The 1975 ou algo no gênero. “Lights Up” é algo como um Robbie Williams atualizado e repensado para hoje. Bem feita, bem cantada, o rapaz tem talento inegável.

 

Com “Cherry” chega a primeira balada derramada do álbum. Tem arranjo de violões e voz, com cordas e sentimento por todos os lados. “Falling”, logo em seguida, mantém o clima, mas é conduzida por teclados e tem vocais que surgem com força no refrão, com aumento de intensidade à medida em que o final vai chegando. “To Be So Lonely” é uma grata surpresa. Tem bandolins e vocais dobrados, que pontuam uma melodia em arranjo simpático, que vai evoluindo para um popão muito bem pensado. “She” é uma belíssima balada rock clássica, com arranjo noventista, mais uma vez lembrando algo que poderia ser feito por Robbie Williams. Coisa fina.

 

A parte final do álbum tem mais surpresas: “Sunflower, vol.6” é um … reggae, no sentido Lily Allen do termo. Ensolarada na medida de um piquenique no Hyde Park, a canção é uma belezura. “Canyon Moon” é a mais psicodélica das canções do álbum, uma espécie de Primal Scream na matinê, sem más intenções, mas com um interessante arranjo de guitarras e baixo/percussão. “Treat People With Kindness” é outro popão com guitarrinhas e boa levada de bateria, psicodélica de lápis de cor, mas com muito valor. “Fine Line”, fechando o disco, é outra canção lenta, épica, muito bonita.

 

Harry Styles fez um baita disco. É uma criação coletiva – há vários produtores e tal – mas tem a marca de um artista com bom gosto surpreendente e disposto a mostrar um pop um tanto mais tradicional em relação ao que vemos em gente como Ed Sheeran, por exemplo. Há belos momentos por aqui e o cara pode ir longe, se quiser.

 

Ouça primeiro: “She”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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