Duff McKagan – Tenderness

 

Gênero: Rock, country
Duração: 47 min
Faixas: 11
Produção: Shooter Jennings
Gravadora: Universal

3.5 out of 5 stars (3,5 / 5)

 

Quem me conhece, sabe: detesto o Guns’n’Roses. Acho uma banda sem qualquer atrativo, pilotada por um vocalista sofrível e um guitarrista mediano, porém, que parece ser gente boa. Um ex-integrante, porém, tem minha simpatia: Izzy Stradlin, que, lembro bem, lançou um álbum completamente vintage lá pelo início dos anos 1990, à frente de uma banda legal, os Ju-Ju Hounds. Depois Izzy sumiu, ou eu não mais o ouvi, muito porque não procurei. Agora, décadas depois, chega a notícia de um disco solo de Duff McKagan, o baixista da banda. Outro dia Duff estava na Amoeba Records, a megastore de Hollywood, falando de suas escolhas do dia, muitas das quais, discos de Prince. Simpatizei. Não por acaso, Duff entrega “Tenderness”, seu novo álbum, com um espectro sonoro bem distante do Guns – e de Prince. Mas aí, caramba, ninguém é perfeito.

 

Uma olhada nos créditos de “Tenderness” vai entregar o jogo logo de cara. Na produção e dividindo a autoria de várias canções, além de participar como músico em várias delas, está Shooter Jennings, filho de um dos maiores ícones da country music americana, Waylon Jennings. Shooter tem carreira solidificada nos USA e sua presença no disco mostram que, sim, Duff enveredou por um caminho – ou seria pradaria? – em que sua maior inspiração é,  de fato, a country music. Várias faixas contam com a presença de violinos e rabecas, tornando-as afetivas e dedicadas ao ideário do estilo. Além disso, os andamentos, os instrumentais, toda a ambiência do álbum é baladeira, dando uma nova dimensão ao próprio Duff como cantor e compositor. Se sua voz era considerada vacilante em outros tempos, agora, imersa neste novo feixe de canções, soa adequada, vulnerável e dotada de humanidade. Funciona que é uma beleza.

 

O grande barato do disco é sua consciência em relação ao mundo. Como um real ex-punk, Duff imprime suas visões dos fatos e se mostra um progressista, algo sempre bem vindo em tempos como os nossos. A inspiração para compor as faixas veio a partir das viagens pelo mundo na Not This Lifetime Tour, empreendida pelo Guns entre 2016 e 2018. Por essas e outras, logo de cara, com a faixa-título, uma bela baladona, Duff já surge pedindo mais  amor e ternura entre as pessoas, não como sentimento, mas como uma alternativa viável – talvez a única – para continuarmos existindo no planeta. Mais adiante está a bela “Feel”, que faz homenagem a Chris Cornell, velho conhecido de Seattle. Outro tema que Duff aborda é a estranhíssima incidência constante de tiroteios e ataques em escolas, contemplada com sinceridade em “Parkland”.

 

A simplicidade de Duff é o grande trunfo. Suas impressões não soam estudadas ou acadêmicas, é apenas um homem comum se expressando. Ele oferece soluções simples – às vezes ingênuas – para os problemas. Em “It’s Not Too Late”, por exemplo, ele diz que é encontrando o semelhante que iremos resolver nossas diferenças. Em “Last September”, sobre violência doméstica, ele até soa confuso, isentando o agressor de culpa, dizendo que não foi bem criado por sua mãe, mas, como dissemos, é uma indignação autêntica e em estado bruto. A espontaneidade das opiniões e até sua falta de depuração mostram um sujeito com a impressão/certeza de que as coisas não estão bem e fazendo o que está ao seu alcance para denunciar. Mesmo que, no meio do processo, exponha suas ambiguidades e visões não-lapidadas de mundo.

 

“Tenderness” é um disco sincero, bonito e bem intencionado. Milhas à frente de qualquer coisa que o Guns’n’Roses tenha feito.

 

Ouça primeiro: “Tenderness”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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