Ace Ventura – Pet Detective

 

Ontem revi “Ace Ventura” na Netflix. Confesso que gostei muito mais do filme do que na época do seu lançamento, 1994. Sabemos bem que o planeta era outro há 25 anos, certo? Quem estava vivo naquela época, lembra muito bem da chegada de Jim Carrey ao hall dos grandes astros da telona. Este foi o seu primeiro grande filme, o seu veículo para roubar corações dos fãs da comédia mais histriônica e derivada dos desenhos animados. Era uma espécie de tecla pause sendo apertada nos filmes de adolescentes e um abraço – ainda que curto – ao pastelão total. E isso era bom.

 

Só que, na época, eu não gostei muito do filme. Tinha 23 anos, me achava intelectual e malandrão, logo, aquela sucessão de caretas e um fiapo de roteiro não eram pra mim. Ainda bem que a maturidade vem para socorrer estes arroubos da juventude. Alguns anos mais tarde, revi o filme num canal por assinatura qualquer e ele já me pareceu muito mais simpático. Não é possível ignorar a atuação que Jim Carrey entrega. O humor que ele explora é totalmente físico, seja nas expressões faciais, como nas corporais, construindo um personagem talvez sem par no cinema recente. A história, espero, você já conhece: Ace Ventura vive em Miami e ganha a vida como detetive de animais. Ele soluciona casos de maus tratos e sumiços de bichos de estimação e tem um estilo, digamos, próprio. Vestido de forma extravagante, com um penteado que desafia a aerodinâmica e uma verborragia descontrolada, Ventura é doido, mas não é louco.

 

Suas habilidades serão contratadas pelo time de futebol da cidade, o Miami Dolphins, cujo mascote – o golfinho Snowflake – acaba de ser sequestrado. A polícia não tem qualquer pista e Ace surge como uma alternativa interessante para que o sumiço seja solucionado antes da final do Superbowl, que se aproxima rapidamente. Com seus métodos pouquíssimo convencionais, dirigindo um detonadíssimo Chevrolet Monte Carlo, modelo 1972, sempre com a cabeça do lado de fora – porque não consegue enxergar pelo para-brisa quebrado – Ventura começa a investigar os fatos e descobre uma trama de vingança, que o levará a estudar o passado do time e de seus integrantes. Ao seu lado está Melissa Robinson, vivida por uma gatíssima Courtney Cox pré-Friends, que serve como enfeite na tela, ainda que seja boa atriz. O elenco principal é completado por uma inacreditável Sean Young, vivendo a Tenente Einhorn, e pelo rapper Tone Loc, no papel de Emilio, um policial amigo de Ace.

 

Revendo o filme ontem, confesso que a trama fez ainda mais sentido dentro da proposta do filme, que é, obviamente, dar espaço para Carrey explorar sua habilidade como comediante. Esta atuação foi tão marcante que ele não saiu mais das telas nos anos seguintes, surgindo em filmes como “O Máscara”, “Debi e Loide”, “Batman Eternamente”, a continuação “Ace Ventura 2”, “O Pentelho”, “Todo Poderoso” e no ótimo “O Mentiroso”, todos lançados entre 1994 e 1997. No ano seguinte, ganharia o respeito da crítica com uma atuação sensível no ótimo “Show de Truman”, até hoje um de seus melhores trabalhos e, na esteira desta revelação como bom ator dramático, Carey ainda estrelaria “O Mundo de Andy”, vivendo o comediante Andy Kaufmann.

 

Quem gosta do estilo de Jim Carrey, entretanto, há de concordar que o primeiro “Ace Ventura” é um pequeno marco. Talvez sua melhor atuação como ator cômico seja em “O Mentiroso”, mas é impossível tirar o mérito deste primeiro e – hoje eu entendo – sensacional filme. Pelo menos ontem, não sei se pelas circunstâncias ou pela situação atual do país, eu ri praticamente de todas as aparições de Carey na tela, indo dormir com dor na mandíbula. Qual o objetivo de um filme como “Ace Ventura” senão este?

 

PS: a banda de gore-metal Cannibal Corpse faz uma ponta no filme e a presença de Ace num show rende uma das piadas mais hilariantes do filme.

PS2: o ator alemão Udo Kier faz uma participação curta. Pra quem não lembra, ele é o vilão gringo de “Bacurau”.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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