A lava jato, veja só, era uma farsa…
Nossa, vocês não estão surpresos? A operação lava jato era uma farsa. Vejam vocês, que impressionante né? O ex-juiz sergio moro, o procurador deltan dallagnol, demais membros do Judiciário envolvidos…todos eles seguiam uma agenda extra-jurídica. Eu estou realmente muito surpreso, gente. Caramba, quem diria? Quem poderia dizer que estas figuras tão probas estavam conspirando contra presidentes eleitos democraticamente, colocando em risco a democracia, indo contra a Constituição, seguindo possíveis orientações políticas, visando uma mudança de rumos na vida do país. Quem diria, não?
Descontem a ironia do primeiro parágrafo, ela é inevitável. A gente já sabia desde que a mídia hegemônica abraçou a lava jato e a colocou no centro das atenções dos noticiários por anos. E a endeusou acima do bem e do mal, chegando a protagonizar um jogral com as falas de Lula e Dilma em horário nobre, com as interpretações macarrônicas de william bonner e renata vasconcellos, da globo network. Pois bem, a gente lembra de tudo. Dilma foi alvo de impeachment sem crime de responsabilidade, tirada do poder e, desde então, o país vem em queda livre. As medidas econômicas que a própria Dilma adotou em 2014/15, quando colocou joaquim levy em seu ministério, já eram fruto de pressão do mercado e dos derrotados no pleito que a reelegeu. Lembro de ver gente no Facebook, desempregada, ferrada, comemorando sua saída do poder e dizendo que “o presidente temer” era um homem honrado. E quanto a Lula, bem Lula foi preso por várias acusações, que estão sendo demolidas uma a uma por sua defesa, mas ficou fora de cena tempo suficiente para que não fosse elegível em 2018, quando, sabemos bem, o país elegeu o atual ocupante da presidência da república, o homem que é contra a vacina anti-covid19.
O caráter venal da lava jato veio à tona já em 2019 por conta de inúmeras mensagens trocadas entre os procuradores e sergio moro, publicadas no The Intercept Brasil. Em 29 de janeiro último, o Ministro do STF, Ricardo Lewandowski, autorizou a quebra de sigilo de mais mensagens trocadas por moro e pela acusação, levantadas pela defesa de Lula em algo que se chamou Operação Spoofing, uma ação contra a invasão de dispositivos eletrônicos de autoridades. Desde então, vários diálogos vergonhosos entre juiz e acusação – que mais parecem parte do mesmo time – surgem na imprensa, sem a devida atenção da emissora que adotou a operação como verdade absoluta. A julgar pelas falas de moro e dallagnol, um grande complô foi colocado em ação com o objetivo único de impedir o PT de seguir como partido com capital político para eleger um presidente da república. Se, após o impeachment de Dilma, o país colocasse no poder o maior líder de esquerda recente de sua história, como fariam as direitas brasileiras?
Para isso entrou em cena a lava jato. A erosão diária das reputações de elementos chave do governo. E a revelação de crimes e esquemas de corrupção vergonhosos, que, sim, eram fruto de uma adesão petista a uma lógica política contaminada há décadas no país. Sua desatenção para estes problemas foi imperdoável, é bom que se diga. Mas, claro, tais esquemas abarcavam políticos de vários espectros ideológicos e coube à mídia pesar a mão sobre aqueles que não lhe agradavam. Sendo assim, talvez o maior legado da lava jato seja o antipetismo, que surgiu a partir do atrelamento inescapável dos políticos do partido a práticas de corrupção. Enquanto isso, os outros políticos, do outro lado do espectro, eram, automaticamente endeusados como paladinos da justiça e da igualdade. Entre eles, roberto jefferson, onyx lorenzoni, jair bolsonaro, aécio, serra, alckmin, todos eles.
Foi o antipetismo que cindiu a esquerda e hipnotizou a audiência do jornal nacional. E foi ele que elegeu o atual presidente da república, com a ajuda luxuosa da prisão ilegal de Lula, acusado e vilipendiado, com seu nome atirado na lama, tendo, inclusive, perdido um neto e a esposa ao longo dos últimos anos.
Como última consequência, a lava jato implodiu a indústria nacional e gerou movimentos políticos que abriram espaço para um verdadeiro saque das reservas do pré-sal. A Petrobras, referência mundial em pesquisa e desenvolvimento, foi loteada e perdeu importantes ativos.
E o país? Como ficou depois da lava jato? Que tal, hein?
Repito: todo corrupto tem que ser preso, mas de forma justa. E, quando não é corrupto, ele não deve ser preso, simples assim. A lava jato promoveu a saída de um grupo político e a entrada de outro, com consequências desastrosas para o país. E dá pra cravar que a eleição do atual presidente é consequência direta de sua ação irresponsável. A nomeação de moro para o ministério da justiça é a prova cabal e irrefutável dessa associação.
Se você acreditou nisso tudo, nossa, como esses dias devem estar sendo difíceis…
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.