Lula por pedro bbbial

 

 

Foi no manhattan connection – onde mais? – que pedro bial, jornalista, apresentador e poeta de bbb, disse que, caso fosse entrevistar Lula, usaria um detector de mentiras. Ele é o responsável pelo “conversa com bial”, programa de entrevistas da globo, sucessor do Programa do Jô, uma espécie de cartão de visitas da emissora no que diz respeito a entrevistas e contato com personalidades em geral. Desnecessário é o mínimo que poderíamos dizer disso, certo?Desnecessário e deselegante.

 

Não dá pra esquecer que bial é um dos representantes mais fiéis de uma elite brasileira que se acha progressista e arejada. É gente que “tem humor” e “tem inteligência”, resultado de uma formação em ambiente social abastado e conseguido a partir de condição econômica preexistente. Ou seja, é gente bem nascida, para a qual a meritocracia surge como uma consequência natural, ignorando que a imensa maioria da população brasileira não desfruta de tais condições. Não por acaso, bial é uma das caras da globo também e já faz muito tempo. Ele foi o repórter que surgiu nas telinhas cobrindo a queda do Muro de Berlim, celebrando a vitória neoliberal sobre o socialismo. Ele também cobriu o Rock In Rio, colou seu nome no campo da cultura, ressoando como uma voz “esclarecida” e “importante”.

 

Mais recentemente, bial foi o apresentador do Fantástico e do bbb, aquela atração global que vocês tanto amam. Enquanto fazia esta função, ele também surgiu com um disco de textos musicados – “Filtro Solar” – no qual várias mensagens de autoajuda e coaching eram declamadas por pessoas como Fernanda Montenegro e ele mesmo. Fez sucesso na época, até minha falecida mãe comprou um exemplar, que ainda está aqui em casa. Ao longo destes anos, bial fez carreira como criador de discursos de eliminação para candidatos do bbb. Chegou a lançar um livro em que compilava essas falas, que a miséria intelectual do Brasil chegou a enaltecer. Também escreveu a biografia do patrão, roberto marinho.

 

Recentemente, bial emitiu opinião sobre “Democracia em Vertigem”, documentário brasileiro indicado ao Oscar de 2019. Ele disse que se tratava de uma “ficção alucinante” e que a cineasta Petra Costa – que narra o filme – “miava” e que era “insuportável”. Essas opiniões são recebidas por uma parte das pessoas como “válidas”, uma vez que, a seus olhos, bial parece uma pessoa esclarecida e com certo viés intelectual. Mas qual o que. Ainda que seja um homem bem sucedido financeiramente, dentro da lógica neoliberal que permeia nossa sociedade, tenho certeza que ele não deve curtir ter seu nome tão vinculado aos discursos das eliminações do bbb.

 

Também não vamos esquecer que bial se referiu a olavo de carvalho como “um brilhante e novo pensador da direita brasileira”.

 

Por essas e por outras, talvez faça sentido que bial desqualifique Lula, que, afinal de contas, mesmo sendo um ex-metalúrgico e sem ensino superior, conseguiu receber mais de 300 títulos internacionais, vários como Doutor Honoris Causa, além da cidadania honorária de várias cidades e países do mundo, inclusive, de Paris. Nessas horas, nem todo o verniz global-zona sul carioca bem nascida serve para disfarçar os vincos que o tempo cravou na carcomida face do entrevistador e dublê de poeta globista.

 

E notem que este texto nem menciona que bial já se referiu ao golpe militar de 1964 como “contragolpe”. Ou seja, apenas para evocar o Barão de Itararé, “de onde menos se espera, é que não vem nada mesmo.”

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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