Maya Hawke – Blush

 

 

Gênero: Alt country

Duração: 38 min.
Faixas: 12
Produção: Jesse Harris
Gravadora: Mom + Pop Music

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

Se você viu a terceira temporada de “Stranger Things” e o último filme de Quentin Tarantino, “Era Uma Vez Em Hollywood”, já conhece Maya Hawke. Atriz, filha de Ethan Hawke e Uma Thurman, Maya debutou como cantora no ano passado, pouco depois de roubar as cenas da badalada série juvenil no papel de Robin, atendente da sorveteria do shopping. Se ela já surgia encantadora ali, não é exagero dizer que sua performance como cantora e letrista vai pelo mesmo caminho. Este seu primeiro álbum, composto em parceria com Jesse Harris – que também assina a produção – é um compêndio de doze canções que revelam um leque de influências que vão de Joni Mitchell a Taylor Swift, com o benefício que o produto aqui é 100% sonoro, não restando muito espaço para promoções, jogadas espertas de marketing e uso exagerado das redes sociais. Maya nos obriga a nos concentrarmos em sua música e oferece uma dose generosa de qualidade neste belo “Blush”.

 

Ela mesma declarou que o disco tem mensagens ocultas para pessoas que fazem parte de sua vida, parentes, amigos. E também acrescentou que atrasou o lançamento do álbum por conta dos protestos do Black Lives Matter a partir de junho, alegando que não era tempo para se promover ou ao disco, mas, sim de conscientização, educação e reflexão. Não por acaso, ela vai doar parte da renda ganha com “Blush” e sua divulgação para o Food Bank For New York City, instituição sem fins lucrativos, que luta pelo combate à fome nos cinco condados da Grande Maçã. Ou seja, estamos falando de alguém que sabe o que está fazendo e que tem zelo pelo que vem apresentar aos fãs e neófitos.

 

Maya tem um timbre de voz bonito, jovem, que cai muito bem na pele de uma trovadora contemporânea e urbana. Seu mundo musical vem sob a forma de belas canções com tonalidades country modernas, no sentido alternativo do termo, numa linhagem que vem de Jayhawks e Ryan Adams. Não há espaço para desperdício, supérfluos ou frivolidades. Mesmo sendo novata, Maya, de 22 anos, sabe prender a atenção do ouvinte, que fica procurando entender sua pronúncia, timbres e segredos. Em alguns momentos seu registro oscila entre o infantil e a juventude, conferindo ainda mais charme ao resultado final. As molduras sonoras de Jesse Harris são bem feitas, delicadas e não abusam das fronteiras do estilo. Não há timbres eletrônicos, batidas ou remixes, tudo aqui é orgânico, como diriam os millenials.

 

E Maya, na condição de jovem musa multimídia, faz bonito em alguns momentos espalhados por “Blush”. A faixa de abertura, “Generous Heart”, tem instrumental que lembra algo do pop-soft-rock californiano dos anos 1970, com ótima performance vocal e versos bonitos, como “What if I can’t prove the strength of your touch?/My cries alone are not good enough”, mostrando maturidade e força. “By Myself” tem uma levada um pouco mais aerodinâmica, lembrando um Fleetwood Mac com orçamento reduzido. Em “Animal Enough”, Maya tem seu momento mais rock, com guitarras saturadas acompanhando sua narrativa, passando para a sutileza da bela melodia em “Coverage”, levando ao fim do álbum, quando chega o momento mais delicado e belo, com “Mirth”.

 

Fazendo o simples e mantendo o pé no chão, Maya Hawke lança um disco que não parece distração de artista querendo brincar de cantor. Ela tem talento, noção, ótima voz e fez um trabalho bem bonito. Ouçam e prestem atenção no que pode vir por aí.

 

Ouça primeiro: “Mirth”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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