O Que Vale Ver no Rock In Rio 2022?

 

 

Mais um Rock In Rio vai começar e você já sabe: um número enorme de atrações vão passar pelos vários palcos do festival, reunindo um contingente respeitável de artistas nacionais e estrangeiros. Temos, além do Palco Mundo e do Palco Sunset, vários outros polos de atrações do evento, como o Espaço Favela, o Palco Supernova e uma área reservada para artistas de música eletrônica. Porém, quem já foi a uma edição do Rock In Rio sabe que o festival é muito mais conservador do que arrojado. Suas atrações costumam se repetir ao longo dos anos e a organização/produção parece ter congelado no tempo em muitas ocasiões.

 

 

Eu digo “parece”, porque, em termos de Brasil, o Rock In Rio ainda atende a demandas por artistas carimbados e consagrados. De que adianta dar espaço para novas e novíssimas atrações se a maioria do público-alvo jamais ouviu falar nelas? Por isso, de forma mercadológica, o Rock In Rio segue proporcionando oportunidades para mais e mais pessoas verem e reverem Capital Inicial, CPM22, Iron Maiden e similares. Sendo assim, teimando pela novidade e acreditando que ela é o motor do próprio tempo, a gente separou algumas atrações que valem a pena ver. Muitas delas são artistas consagrados também, porém, alheios ao processo de banalização absoluta que o festival promove e promoveu ao longo de suas edições nos últimos onze anos. Vamos ver.

 

 

Dia 2 de setembro – este é o chamado Dia do Metal, uma tradição no Rock In Rio e, por coincidência, um momento em que é possível ver atrações razoavelmente inovadoras, caso dos franceses do Gojira, que entra no Palco Mundo, ou do Bullet For My Valentine, que encerra o Palco Sunset neste mesmo dia. Entre eles, ainda há a presença sempre recomendável do Living Colour (enxertado pela presença de Steve Vai, algo que me parece desnecessário, uma vez que o grupo americano tem um dos maiores guitarristas de sua geração, Vernon Reid) e a respeitável colaboração entre os grupos Black Pantera e Devotos do Ódio. Oriundos, respectivamente, de Minas Gerais e Pernambuco, as duas formações são pesadas, sujas, rápidas e ostentam letras que vão contra opressão, racismo e outros bodes sociais modernos e lamentáveis. Fechando o nosso hall de recomendações deste dia, a impressionante Gangrena Gasosa, que estará no Espaço Favela, desfilando não-hits como “Eu Não Entendi Matrix”, “Saci” e a impressionante “Quizila”. Mesmo que a versão da Gangrena não seja exatamente a original – por conta de uma batalha de direitos de nome que se arrastou por tempos – vale a pena.

 

 

Dia 3 de setembro – neste dia a nossa recomendação é ficar afastado totalmente do Palco Mundo, uma vez que o naipe de atrações inclui gente como o DJ Alok e o DJ Marshmello, que mistura o conceito de “bonecão do posto” e o atualiza para as pistas de dança menos informadas do mundo. Melhor mesmo é ficar distante, andando pelas atrações comerciais do lugar, explorando os espaços e só se encaminhar para o Palco Sunset na hora da última atração do dia, os veneráveis Racionais MC. Se você não se aguentar, pode ir um pouco antes e dar uma conferida na presença do Emicida e seus convidados, mas a nossa recomendação é ir na certa e dar de cara com o ótimo repertório da maior banda de rap do Brasil em todos os tempos.

 

 

Dia 4 de setembro – este é outro dia duro de aguentar, num universo em que Justin Bieber estará fechando o Palco Mundo como maior atração. A nossa recomendação é nem passar perto do maior espaço do festival e aquecer as turbinas com o show de Buchecha lá no Espaço Favela. O homem foi uma máquina de hits no fim dos anos 1990 e certamente irá enfileirar todos, de “Conquista” a “Só Love”, numa celebração de bom pop rap. E, depois disso, a boa é ir até o Palco Sunset e se deliciar com o show de Gilberto Gil e sua família, que promete ser um momento de amor e fofura. O acadêmico vai desfilar seu repertório secular e dar espaço para seus filhos e netos lhe acompanharem com gentileza e carinho. Espetáculo raro e com emoção garantida. Lembrando: Gil tem 80 anos, é um patrimônio artístico nacional vivo, merece ser visto e amado.

 

 

Dia 8 de setembro – neste dia, meus amigos e amigas, a Célula Pop recomenda ficar em casa, de fofura, com janta quentinha, caminha e tal. A menos que você queira ver Axl Rose desafinando o já péssimo repertório de sua banda Guns’n’Roses, que vem ao seu vigésimo sexto Rock In Rio. Ou ver os italianos do Maneskin, que ficaram famosos fazendo cover oportunista de Frankie Valli And Four Seasons. Ou mais um show do Offspring, mais uma apresentação do CPM22…No Palco Sunset teremos uma procissão de cantoras mais ou menos, culminando com o pop aguardo e coach de Jessie J.

 

 

Dia 9 de setembro – talvez o melhor dia do festival, teremos atrações interessantes, três delas orbitando o universo, hum, punk. Longe disso, muito longe, teremos a presença de Jão no Palco Sunset, um artista pop em rápida ascensão, dono de um repertório bacana e bem resolvido. Deve fazer muito sucesso entre o pessoal mais jovem que lá estiver. No mesmo Palco Sunset, fechando este dia, teremos Avril Lavigne, que tem lançado bons discos recentemente e que, dependendo do fôlego e da banda que a estiver acompanhando, deve dar um bom show. No Palco Mundo, o sensacional Billy Idol vai enfileirar seus hits oitentistas e do início dos anos 1990, com o Green Day fechando o dia. Ainda que eu prefira a fase adolescente da banda de Billy Joe, lá dos meados dos anos 1990, o Green Day está lançando bons discos atualmente, com uma sonoridade mais rock clássica, que tem feito bem ao som da banda. Deve ser um bom show, de um raro headliner inédito do Rock In Rio.

 

 

Dia 10 de setembro – este é outro dia interessante e que promete um show muito legal. CeeLo Green fecha o Palco Sunset com um tributo a James Brown. A julgar pela ótima aparição do homem no Rock In Rio de 2015 e pelos trabalhos mais recentes que lançou, é certeza de ótima apresentação. Além dele, Djavan, um mestre da MPB, se apresenta no Palco Mundo. O homem é ótimo ao vivo, com uma superbanda que tende a mandar muito bem. Além dele, a ótima cubana Camila Cabello deve roubar a cena, com sua latinidade de mercado e as músicas de seu ótimo último álbum, “Família” e sucessões como “Havana”. Fechando o dia, o pop espetaculoso do Coldplay, que é mais um evento do que um show. Vai ter de tudo, inclusive música, com a figura ultrapositiva de Chris Martin fazendo um verdadeiro exorcismo de boas vibes e felicidade de fogos de artifício, serpentinas e tudo mais. Pena que o último álbum do grupo – “Music Of The Spheres” – seja tão fraco. Em hits mais consolidados e antigos, o público vai ter uma síncope. Lembrando que o Coldplay tem mais uns 980 shows em São Paulo, Rio e várias outras cidades da América Latina por estes próximos dois meses.

 

 

Dia 11 de setembro – no nosso entendimento, não há outra razão para se estar na Cidade do Rock neste dia que não seja para ver o show da anglo-albanesa Dua Lipa. Exuberante, talentosa, gatíssima e sensacional, ela deve ser uma das grandes atrações de todo o festival. Seu último álbum, “Future Nostalgia”, deu uma temperada em seu pop moderníssimo com doses generosas de funk e disco, se tornando um dos trabalhos mais bacanas dos últimos tempos nesta área. A moça tem presença arrebatadora e está detonando em palcos pela Europa neste momento. É certeza de sucesso e plateia se descabelando, surtando e cantando junto com ela.

 

 

Lembrando que a cobertura da Célula Pop neste ano será feita diretamente do sofá, com a presença da nossa enviada Amanda Respício, lá na Cidade do Rock, nos dias 2 e 9. Prometemos que vai ser legal, podes crer.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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