Lake Street Dive é perfeito para consumo em larga escala

 

 

 

 

Lake Street Drive – Good Together
36′, 11 faixas
(Fantasy)

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

 

 

 

Corria o ano de 1985 quando o duo Eurythmics, formado por Annie Lennox e Dave Stewart, resolveu dar uma guinada estética. Deixou de lado o tecnopop vencedor que praticara até ali e concebeu seu quarto álbum, “Be Yourself Tonight”, como um veículo para a existência de canções pop com nítida influência soul, a tal ponto que baluartes do estilo, como Stevie Wonder e Aretha Franklin, fazerem participações em faixas sensacionais como “There Must Be An Angel” e “Sisters Are Doin’ It For Themselves”. Isso sem falar em outras lindezas, como “Thorn In My Pride” e “Would I Lie To You?”. No ano seguinte, mais um álbum nesta mesma onda, talvez um pouco mais pop: “Revenge”, que traz minha preferida pessoal de toda a lavra da dupla, “When Tomorrow Comes”. E por que estamos falando de Eurythmics aqui, ora bolas? Porque a sonoridade que o grupo de Boston Lake Street Dive imprime em seu novo e ótimo álbum “Good Together” é muito semelhante ao que fazia o duo inglês no biênio de 1985/86. E também ao que estavam fazendo nesta época gente como Huey Lewis And The News, Hall & Oates, Paul McCartney e toda uma linhagem célebre e confiável de ótimos artistas.

 

A sonoridade do Lake Street Dive é altamente acessível. Toda calcada na voz potente de Rachel Price, a musicalidade da banda oscila entre essas influências soul, não só oitentista, mas setentista também, e o tal pop dos anos 1980, despido de todos os excessos tecladeiros praticados então. O resultado é ótimo, até porque o LSD é ótimo na composição de canções que juramos já ter ouvido, porque os sujeitos conseguem capturar o “espírito do tempo”, coisa que pouca gente consegue. E quem são essas pessoas? Além de Price, temos a extraordinária baixista Bridget Kearney, o baterista Mike Calabreze, o guitarrista James Cornelison (que substituiu o fundador Mike Olson) e o tecladista multitarefas Akie Bermiss. Com estes elementos posicionados corretamente, a banda consegue alçar voo sobre todo o espectro deste soulpop acessível e o faz, não só com as tais boas canções mencionadas acima, mas com uma destreza instrumental marcante, que é inteligentemente utilizada a favor das interpretações, restando quase nenhum espaço para exibicionismos técnicos pentelhos ou algo do gênero.

 

Na estrada desde o fim da década de 00, o LSD já depurou excessos e resolveu detalhes de seu som, sendo agora, com mais de quinze anos de carreira, uma banda no topo de sua forma. Rachel Price está cantando melhor que nunca e ela é desse tipo de vocalista que abre mão de performances exibicionistas para jogar coletivamente, pensando no grupo. O resultado desse amadurecimento está em todos os cantos desse “Good Together”, que já entrega esse entrosamento no título. A quantidade de ótimas canções é notável e temos várias variações variáveis em termos de potenciais sucessos radiofônicos. Se estivéssemos nos anos 1980, certamente o LSD seria aquele tipo de artista a frequentar trilhas sonoras internacionais de novelas da globo, sendo conhecido por um número imenso de pessoas. Com a fragmentação de hoje e a situação da transmissão de conhecimentos musicais a cargo de poucos abnegados, o público brasileiro médio – que amaria o LSD – o desconhece solenemente.

 

Logo de cara, faixa-título coloca o ouvinte a par do que está por vir. Um groove simples e eficiente conduz a melodia até o refrão sem muitas delongas, deixando apenas o essencial. A canção seguinte, “Dance With A Stranger” parece uma criação da faceta mais pop de um Stevie Wonder, perfeitinha e dançante que só. “Far Gone” é bonitinha e rapidinha, mas com uma levada matadora e que remonta diretamente ao soul mais identificado com o sul dos USA e “Get Around” pede atenção em outro espécime que parece da lavra de Wonder, dessa vez mais encorpado e sério, com destaque para linhas de baixo matadoras executadas por Bridget Kearney e bateria cheia de rufos a cargo de Mike Calabreze. “Better Not Tell You” lembra uma ótima canção de Sheryl Crow, “All I Wanna Do”, enquanto “Seats At The Bar” mistura climinha de FM setentista pós-disco com bateria e percussão noventistas, abrindo espaço para “Party On The Roof”, que, o nome já diz, é canção de festa, celebração e felicidade, com mais baixos arrasadores e latinidade perfeitinha.

 

“Good Together” é convidativo, arejado, feliz e pronto para ser ouvido sem qualquer restrição. É música pop cheia de influências de ótima origem, um verdadeiro buquê de ótimas canções. Ouça e passe adiante.

 

 

Ouça primeiro: “Good Together”, “Dance With A Stranger”, “Far Gone”, “Get Around”, “Better Not Tell You”, “Seats At The Bar”, “Party On The Roof”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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