Imagine Dragons: música para quem não gosta de música

 

 

 

Imagine Dragons – Loom
31′, 10 faixas
(Warner)

2.5 out of 5 stars (2,5 / 5)

 

 

 

 

 

Eu estava ouvindo as canções deste novo álbum do Imagine Dragons e me lembrei do … Burger King. Explico. Assim como a cadeia de fast food americana, a banda liderada por Dan Reynolds, oferece um cardápio sonoro adaptável, sazonal e que proporciona pouca/pouquíssima saúde a quem consome. Conferi o total de ouvintes dos sujeitos no Spotify e dei de cara com um número impressionante: 60 milhões. Por que tanta gente? É simples. Não podemos esquecer que o ID é uma banda derivada da mutação multimidiática do Coldplay, que aconteceu quando a banda de Chris Martin decidiu fazer tudo num palco, inclusive música. Daí, se o Imagine Dragons é o Burger King na nossa equação, o Coldplay é, digamos, o McDonald’s. A dominação global é proporcional, assim como o baixo nível nutritivo, que conquista o público menos preocupado com detalhes, ressonâncias e relevâncias do que consome/ouve. E já se vai o sexto álbum do Imagine Dragons, uma das atrações mais esperadas do próximo Rock In Rio.

 

E qual é o problema com a banda? Bem, se você pensa a música como algo que expressa emoções, traduz sentimentos e tem algo mínimo a ver com uma nesga de sinceridade pessoal, o Imagine Dragons tem vários problemas. Ou melhor, os problemas são seus, que espera isso de um artista dessa natureza. Sim, porque o som que o grupo faz é especificamente pensado para evitar laços mais duradouros com seus ouvintes ou um mapeamento emocional mais aprofundado. É um neoliberalismo musical, que se alimenta de uma produção contínua, toyotista, de canções nas quais podem caber todas as influências possíveis e uma carga lírica mínima, fugidia, baseada justo na rapidez do dia a dia. Bandas assim não cabem num rótulo, ou melhor, elas clamam todos os rótulos para si e, como são superficiais e descompromissadas com algo mais fixo ou aprofundado, tudo passa a valer, uma vez que sempre será superficial.

 

É a solução perfeita para espetáculos em nosso tempo. O Imagine Dragons leva uma parafernália hollywoodiana para os palcos, o vocalista Dan Reynolds é um frontman tarimbado, bombado, com cérebro suficiente para dominar a massa que vai ao evento, conduzi-la em coreografias, discursos, posturas, movimentos, acompanhamentos de telão, tudo mais que cabe num espetáculo em que também há música. Não se trata de caretice e implicância com grandes shows, pelo contrário. A nossa questão é com a qualidade do que é oferecido ao público, mesmo que as pessoas lá presentes estejam querendo, justamente, esse whopper musical de baixo impacto. Para cumprir esse objetivo, o grupo escolheu a dupla de produtores suecos Mattias Per Larsson e Robin Lennart Fredriksson, mais conhecidos como Mattmann & Robin. Caso você ainda não os conheça, estão presentes em trabalhos recentes de gente como Maneskin, One Republic, Dua Lipa, Camila Cabello e Taylor Swift. Ou seja, dois conhecedores profundos dessa produção vigente para o megapop mundial de consumo massificado.

 

A gente gosta de música pop. Em vários momentos da história, o pop trouxe ótimas traduções sonoras e revelou gente muito talentosa. Só que, como o mundo, o pop tornou-se algo tentacular e pautado pela vigência de uma lógica econômica e industrial que deixa de fora elementos imponderáveis. Tudo parece seguir um caminho seguro, que não comporta o inesperado, logo, um ambiente propício para esta música sem alma que o ID oferece. Ainda que o álbum anterior, “Mercury” tenha acenado com algumas ressonâncias emocionais advindas da pandemia de covid-19, este “Loom” é outro monstro multimeios. Tem alguns momentos passáveis, especialmente “Take Me To The Beach”, que parece uma canção dos Backstreet Boys reempacotada para lógica atual, e “Nice To Meet You”, que tem um DNA pop assoviável que remonta a estruturas que poderiam ser parentes da Motown sessentista. Entretanto, é em bombas como “Gods Don’t Pray” ou no dueto com o colombiano J.Balvin, “Eyes Closed”, que a plateia do Rock In Rio surge como o principal destinatário.

 

Imagine Dragons é um retrato melancólico e pirotécnico da música pop atual. É música feita com carinho e atenção para quem não está nem um pouco interessado em … música. Se é o seu caso, caia dentro.

 

 

Ouça primeiro: “Nice To Meet You”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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