Death Cab For Cutie retoma boa forma em novo álbum

 

 

 

 

Death Cab For Cutie – Asphalt Meadows
42′, 11 faixas
(Atlantic)

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

 

 

Ben Gibbard, o líder do Death Cab For Cutie, tem 46 anos. É uma típica pessoa de sua geração, angustiado com os rumos que a vida tomou, preocupado com o destino do planeta e certo de que seu conhecimento e sabedoria, acumulados com o tempo, tendem a perder a importância aos poucos ante a aceleração que vivemos. Mesmo assim – e, talvez, exatamente por isso – o novo álbum de seu grupo é tão relevante. Gibbard e seus amigos oferecem ao ouvinte uma experiência contemplativa, dando chance de compartilhar reflexões sobre vida, amor, mortalidade e, acima disso, finitude. É algo que a gente experimenta quando vai ficando mais velho e Ben, que tinha 21 anos quando montou o DCFC, felizmente envelheceu graciosamente e não nega isso nas 11 faixas que compõem este belo “Asphalt Meadows”, décimo trabalho da banda.

 

 

Os álbuns anteriores do DCFC, “Thank You For Today” (2018) e “Kintsugi” (2015), apontavam uma leve estagnação. A marca sonora do grupo, a saber, canções angustiadas que pegavam emprestado a melancolia dos alternativos oitentistas e a mesclavam com informações guitarreiras noventistas, parecia ter chegado ao ápice em meados dos anos 2000. Gibbard parecia desconectado do trabalho com o grupo, preferindo até mergulhar em projetos paralelos extremamente pessoais/estranhos, como a sua versão integral para “Bandwagonesque”, disco do Teenage Fanclub que ele gravou em 2017, ou a colaboração com o rapper Chance The Reaper, em seu álbum “The Big Day”. Porém, entre o fim de 2021 (com o lançamento do ótimo “The Georgia EP”, no qual gravou uma cover bela de “Fall On Me”, do REM) e o início de 2022, a presença do Death Cab no álbum-tributo a Yoko Ono, “Ocean Child”, interpretando uma bela versão de “Waiting For Sunrise” acenava uma mudança de postura.

 

 

Claro, em meio à pandemia, Gibbard e sua turma conceberam as canções de “Asphalt Meadows”, com toda a carga reflexiva que o momento trouxe para todos nós. E isto fez o grupo reencontrar um foco perdido ou turvado pelos últimos anos. A pegada sonora segue firme, com arranjos que desafiam as fronteiras entre canções pesadas ou “leves”, parecendo New Order aqui e ali, mas cada vez mais dentro das autorreferências, o grupo lançou um punhado de obras belas e fortes. “Here To Forever” foi a primeira faixa a surgir nas redes sociais. Uma levada aerodinâmica – tradicional em se tratando de DCFC – é pontuada por uma guitarra com timbres totalmente neworderianos paira no ar, enquanto Gibbard desfila versos como “I wanna know the measure from here to forever”) questionando a incapacidade de resolver as mesmas questões, em meio a um ambiente em que tudo parece ter sido resolvido e banalizado.

 

 

“Roman Candle”, o segundo single do álbum, é o oposto. Truncada intencionalmente, igualmente devedora do parâmetro pós-punk inglês oitentista eletrônico, ela vai avançando até encontrar um momento em que o arranjo parece resolver seu andamento caótico e colocá-la nos trilhos. Guitarras e teclados povoam o caminho, tudo muito belo, novamente evocando viradas de bateria e linha melódica que lembra Manchester, 1982. “Foxglove Through The Clearcut” é mais serena, contemplativa, com um instrumental que oscila entre o psicodélico e o hipnótico, baseado nas repetições das linhas melódicas, algo bem bonito. E há canções mais rápidas e diretas, caso da ótima “I Miss Strangers” (“You were by my side on the frontline, do you remember?”) e “Pepper”, esta última mais contemplativa e sentida. Ainda há destaque para a pesadinha “I’ll Never Give Up On You e a linda “Wheat Like Waves”, ecoando entre os 1980 e 1990 como se fosse um bumerangue.

 

 

O Death Cab For Cutie reafirma com este “Asphalt Meadows” o seu tamanho e a sua importância entre as bandas de rock do nosso tempo. Com uma carreira que já chega aos 25 anos e uma obra sólida, o novo trabalho é um destaque que o recoloca no melhor da forma.

 

 

Ouça primeiro: “Here To Forever”, “Roman Candle”, “I Miss Strangers”, “Foxglove Through The Clearcut”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

One thought on “Death Cab For Cutie retoma boa forma em novo álbum

  • 25 de setembro de 2022 em 10:48
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    Também aguardando a chegada da “bolachinha” importada (eeeiiita Brasil, vc me quebra )…maaasss, buracos na collection, nem pensar hehehe….

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