Batman x Bolsonaro

 

Presidente brasileiro vira chacota em série do Batman

 

Nossa política e nossos rumos, como país, já afundaram tanto, que a chacota e a caricatura ultrajante do que é o Brasil hoje se tornou lugar comum nos quadrinhos. Foi lançada nesta quarta-feira, onze de dezembro, a edição número um da mini-série The Dark Knight: The Golden Child. Roteirizada por Frank Miller e com arte do brasileiro Rafael Grampá (autor da graphic novel Mesmo Delivery), a revista continua a saga da versão do Batman do universo de Cavaleiro das Trevas, obra seminal de Miller dos anos 1980, um dos marcos dos gibis adultos com super heróis.

 

Durante toda a carreira Miller trabalhou com conceitos políticos, e Cavaleiro das Trevas é repleto de metáforas e comentários sobre a era de Ronald Reagan na presidência dos EUA, no período em que a série foi lançada originalmente, e sobre a Guerra Fria. Na parte dois da saga, muito criticada, o autor tecia comentários sobre a mídia jornalística e de entretenimento e sobre a cultura pop. A terceira parte, criada em parceria com Brian Azzarello, teve tons políticos um tanto amenizados, embora não tenha se furtado a comentar a violência policial e erguer paralelos difusos sobre xenofobia e a questão da imigração.

 

Agora, em Golden Child, Miller segue a história de Carrie Kelley, a Robin de Cavaleiro das Trevas, assumindo seu legado como a verdadeira herdeira do homem morcego, Lara e Jonathan, os filhos do Superman e da Mulher-Maravilha. Como na primeira mini-série, parte da ação na história é entremeada e comentada pelos meios de comunicação dominantes. A TV nos anos 80, a internet na segunda parte, e agora, como em Cavaleiro das Trevas III, as mídias sociais.

 

A necropolítica de Bolsonaro diz presente através de um “tweet” fictício, na plataforma Peegeon, que parodia a conta oficial do truculento presidente brasileiro. Comentando protestos nas ruas de Gotham City, o usuário JM. Bozo, cuja foto de perfil não deixa dúvidas de quem se trata, escreve o seguinte: Se dependesse de mim, todo cidadão de bem teria uma arma em casa.

 

 

Está escancarado. Somos inimigos e caçamos os X-Men. Viramos paródia política rasteira em um gibi do Batman. O novo partido do presidente exibiu uma imagem do seu logo fabricado com cápsulas de bala. O ministro da justiça posou com uma imagem sua criada com… cápsulas de bala. As últimas frases não são descrição de obras de ficção. São nossa seca e degradante realidade. Uma violência institucional que, decantada pela cultura popular dos gibis, vira caricatura de uma republiqueta atrasada e autoritária.

Fabio Luiz Oliveira

Fabio Luiz Oliveira é historiador e crítico da Arte não praticante. Professor da rede pública do Rio de Janeiro. Escritor sem sucesso, espanta o mofo de seus textos em secandoafonte.wordpress.com

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