Aprenda História (do Brasil) com Vice

Christian Bale subiu ao palco do Globo de Ouro para receber seu prêmio como Melhor Ator
de Filme Dramático. Olhou para as câmeras e agradeceu ao diabo em pessoa por tê-lo inspirado para compor a
interpretação assustadora do ex-vice presidente americano Dick Cheney. Pode parecer
exagero, mas não. Para quem não conhece a história do político do estado do Wyoming,
“Vice” oferece uma detalhada visão. Ao fim do filme, você entenderá – espero – a
declaração do ator.

Adam McKay já diriu Bale em “A Grande Aposta”, de 2015, e disse que o ator galês era sua
única escolha para viver Cheney. Não espanta a preferência: Bale, metódico e dedicado,
engordou 20 quilos, raspou o cabelo, incorporou todos os tipos de tiques e taques
físicos, vocais e tornou-se, simplesmente, Cheney. Quem lembrar das aparições dele
durante os dias que sucederam o 11 de setembro de 2001, dará a mão à palmatória do
perfeccionismo de Bale.

McKay imprime sua habitual direção fracionada, com humor, montagem e edição anárquicas e
um apuro histórico em que o humor negro dá o tom. A ascensão de Cheney e seu grupo
político dentro do Partido Republicano mostra vários níveis de escroques, a começar por
ele mesmo. Inteligente, calculista e perspicaz, tornou-se uma eminência parda da política
americana durante vários governos republicanos, atingindo o ápice com a chegada de George
W. Bush ao poder em 2000.

O filme não poupa o espectador de informações escabrosas e entrega uma narrativa com
pinta de programa jornalístico, entrecruzando imagens correlatas e um narrador onisciente
– vivido pelo ótimo Jesse Plemmons – que vai surpreender até os mais atentos. O elenco é
de tirar o chapéu: Steve Carrel é Donald Rumesfeld, ex-secretário de defesa de W. Bush;
Amy Adams é a fiel e atenta esposa Lynne Cheney e Sam Rockwell causa incômodo na pele do
próprio W. Bush, sustentando a premissa do filme: Cheney era o homem que mandava em tudo.

Contundente sem ser panfletário, educativo sem apelar, “Vice” é produto apurado e
exuberante, uma verdadeira aula de história que extrapola as fronteiras norte-americanas
e serve para todos os países do mundo que experimentaram a “defesa da liberdade” imposta
por eles, seja in loco, com tropas invasoras, seja via golpe de estado.

Imperdível e tristemente revelador.

Vice concorre a oito estatuetas do Oscar, incluindo Melhor Ator, Melhor Filme, Melhor
Diretor, Melhor Ator Coadjuvante (Sam Rockwell), Melhor Atriz Coadjuvante (Amy Adams),
Melhor Roteiro Original, Melhor Edição e Melhor Maquiagem e Penteados

Carlos Eduardo Lima

Duração: 132 min.
Direção: Adam McKay
Elenco: Christian Bale, Amy Adams, Steve Carell, Sam Rockwell, entre outros.

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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