Anitta, Fernanda Montenegro e o voto

 

 

Chamou a atenção a diferença de postura de duas figuras públicas da arte brasileira nestes últimos dias. Fernanda Montenegro deu entrevista ao jornal O Globo e, entre outras coisas, disse que não vai votar. A atriz, de 92 anos, está prestes a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras e declarou sua insatisfação absoluta com o atual governo.

 

“Estamos com esse trágico governo, um presidente que faz como símbolo da sua atividade presidencial uma mão que é uma arma ou o sexo de um homem. É um emblema sórdido”.

 

Ela também responsabilizou os governos anteriores por não terem resolvido problemas da sociedade – favelas, por exemplo – e por terem levado o país ao atual cenário. Como se, por exemplo, os governos petistas ou de FHC tivessem nos dado como herança bolsonaro. Claro, Fernanda não é especialista em política, deu sua opinião de cidadã e deve ser respeitada totalmente. O que chamou a atenção foi a parte em que ela declara que não irá mais votar.

 

“Não vou votar. O mais simbólico desse governo foi o fim da cultura das artes. Não tem governo radical que não pare a cultura das artes, mas estamos nas catacumbas vivos. Não estamos extinguidos”.

Não entendo.

 

O meio para se retirar do poder um governo radical e anti-artes, como diz Fernanda, é, justamente, o voto. Sua postura de não exercer este direito é totalmente legítima, uma vez que não há necessidade de uma cidadã com sua idade comparecer às urnas, mas, se alguém está tão desiludido politicamente, as eleições são o momento ideal para manifestar sua vontade.

 

Do outro lado do espectro artístico, está Anitta. Em ótima fase artística, lançando o novo single “Evolver”, cantado em espanhol, ela se tornou a primeira artista brasileira a adentrar o Top 10 do Spotify. Ativa nas redes sociais, Anitta postou o seguite em seu perfil do Twitter:

 

“Tem 16 ou 17 anos ou fará 16 anos ATÉ 02 de Outubro? Mudou de cidade e quer votar para o novo presidente do Brasil? Então, fique sabendo que é muito fácil tirar ou transferir o título hoje em dia! É tudo online e não precisa de biometria!”.

 

Não é a primeira vez que Anitta faz este tipo de postagem ou demonstra interesse pela vida política do país. Já foi ofendida – e revidou – via Twitter pelo ex-ministro do Meio Ambiente, ricardo salles, e já foi chamada de alienada e ignorante por muita gente. Anitta chegou a convidar a comentarista da CNN Gabriela Priolli para uma transmissão ao vivo em seu perfil do Instagram, no qual tirou várias dúvidas sobre política, história, voto, entre outros temas. Com isso, ela reforçou seu papel junto ao público e deve levar muita gente jovem a tirar seu título de eleitor.

 

 

Em tempos como os atuais, com um governo como este, vale a análise de ambas as posturas. Talvez Fernanda esteja certa em um ponto – não estamos extinguidos. Anitta provou.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

One thought on “Anitta, Fernanda Montenegro e o voto

  • 24 de março de 2022 em 13:25
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    Sobre a afirmação “O meio para se retirar do poder um governo radical e anti-artes, como diz Fernanda, é, justamente, o voto.” prefiro entender como uma verdade não absoluta. Esse pensamento traz de volta o tal do voto útil que só nos tornou politicamente mais obscuros. Se lhe são apresentados dois carros, um sem rodas e outro sem motor, pergunto: você levaria algum? talvez o sem motor, por poder ser empurrado?? Se você não se identifica politicamente com um candidato não deve votar. Voto não deve ser em nomes, figuras, como nos reality shows, onde vc escolhe o que vai ficar e isso não machuca ninguém. Mas no Brasil a política é praticada às vésperas de eleição. Como um paredão as pessoas escolhem quem vai subir ao poder e OS DEIXA POR LÁ FAZENDO O QUE BEM ENTENDER. Esse jeito de votar fomenta a política do toma lá dá cá, porque nomes também serão escolhidos para o Senado e Câmara sem preocupação em mostrar coerência ao voto (de DOIS anos passados) para presidente. Discute-se nomes, elege-se fanfarrões e vamos sofrendo. Não ao voto útil que já se mostrou uma porcaria.
    Assim, dou razão à Fernanda Montenegro porque acho que fazer política é isso, mostrar suas ideias, trazer à discussão o pensamento político e não a prática simples do voto. Igualmente Anitta, de quem não sou fã do repertório mas de quem tornei-me um fã como pessoa Anita. parabéns e força nessa sua atuação como ser humano, cidadã e por saber onde quer chegar e trabalhar duro por isso.

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