Morreu Brian Wilson. E agora?

 

 

Brian Wilson, líder dos Beach Boys, gênio da música pop americana, um dos maiores compositores e artistas do século 20, morreu. A notícia acaba de chegar via redes sociais e a causa da morte não foi divulgada. Sabemos que, além de um histórico médico especialmente complicado, fruto dos abusos químicos e questões pessoais vivenciadas entre os anos 1960 e 1980, Brian sofria de demência (diagnosticada no início de 2024) e havia perdido sua esposa, Melinda, em janeiro do mesmo ano. Afastado dos palcos há tempos, vivendo deste jeito e com saudades de tudo e todos, o eterno Beach Boy partiu. Hoje, dia 11 de junho de 2025.

 

Alguém dirá que a obra de Brian está imortalizada, sedimentada, reconhecida como uma das mais importantes do século 20. Ele é, sem qualquer exagero, um inovador da arte e da música, junto a nomes como Paul McCartney, David Bowie, Carole King, Paul Simon, Marvin Gaye, Stevie Wonder…Brian era um dos mais relevantes de seu tempo. Do nosso tempo. Suas canções com os Beach Boys, banda em que nenhum dos integrantes era propriamente um surfista, formada por ele, seus irmãos, Carl e Dennis, mais Al Jardine e Mike Love, são pequenas pérolas eternas de doçura, tristeza, saudade e beleza, tudo compactado em poucos minutos de duração. Brian é desses artistas que conseguiram criar algo novo. Sua música com os Beach Boys era absolutamente nova, no mesmo nível da produção dos Beatles.

 

Sua perda é irreparável. É impensável. É grande demais para ser dimensionada completamente, pelo menos, em questão de pouco tempo. Como disse acima, sua música está disponível em todos os formatos possíveis. A influência dos Beach Boys é imensa, definitiva, única. E Brian também tem uma carreira solo bem interessante, iniciada no fim dos anos 1980, quando lançou o álbum “Love And Mercy”, iniciando um retorno à música que seria considerado impensável alguns anos antes. Ele passou a maior parte dos anos 1970 e 1980 afastado dos estúdios, indo e vindo de tratamentos mirabolantes para restituir sua sanidade. Um deles, ministrado por Eugene Landy, quase o levou deste mundo, causando mais danos do que já havia antes. Dos anos 1990 em diante, Brian passou a produzir, excursionar e revisitar sua carreira. Ele estava de volta. Foi na divulgação do lançamento de “Smile”, o álbum dos Beach Boys que foi interrompido em 1967 por conta de um colapso mental, que Brian Wilson veio ao Brasil. Foi um único show na Chácara do Jóquei, em São Paulo, ao qual compareci com muito orgulho. Ali, mesmo que parecendo um bonecão do posto, Brian mostrou-se ainda capaz de reger uma banda, cantar e arranhar um tecladinho decorativo. A força de sua música, muito mais que uma eventual performance competente num palco, é que dava as cartas.

 

Em 2012, após muito tempo, Brian se reuniu aos Beach Boys remanescentes e lançou o último álbum de inéditas da banda, o belíssimo “That’s Why God Made The Radio”. Depois ainda lançou alguns discos solos belos e interessantes. Estava em silêncio nos últimos anos.

 

Brian é um dos meus heróis. Sua perde, repito, é impensável. Sua permanência através de sua música é certa, mas também é certo, e bem incômodo, não mais partilhar a existência com ele. Saber que ele estava vivo, acordando, comendo, dormindo, todos os dias, nos dava uma dimensão mais confortável e familiar. Agora que ele já não está mais aqui, não desse jeito, um vazio imenso vem tomar conta de quem ouviu e ouve suas canções como ato espontâneo, simples, inevitável. E que, de alguma forma, entende tudo o que está dito, cantado e silenciado em cada arranjo, vocal e letra que ele deixou.

 

Brian era o maior de todos. Era um gênio. E o mundo será um lugar ainda mais insuportável sem ele por aqui. Vá em paz e muito, muito obrigado por tudo.

 

 

Abaixo está nossa playlist de canções preferidas de Brian com os Beach Boys. O link para o texto que explica as escolhas está aqui.

 

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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