Billy Idol lança novo álbum refletindo sobre passado

 

 

 

 

 

Billy Idol – Dream Into It
35′, 9 faixas
(Dark Horse/BMG)

2.5 out of 5 stars (2,5 / 5)

 

 

 

Não espanta que Billy Idol esteja em modo reflexivo neste novo álbum, “Dream Into It”. Ele é apenas o nono trabalho de uma carreira que se iniciou em 1981, teve o ápice em seu início e vem alternando trabalhos ruins e longos hiatos. Além disso, Billy teve problemas quando sofreu um acidente sério de moto, algo que, certamente, contribuiu para tornar sua carreira mais aleatória. Por exemplo, seu último álbum foi o fraco “Kings & Queens Of The Underground”, de 2014, que sucedeu o ainda pior “Devil’s Playground”, lançado nove anos antes. Assim como a maioria dos trabalhos de Idol pós-1990, eles tentam recriar algo da magia punk-pop dos anos 1980, sem conseguir. Se analisarmos com isenção, veremos que a trajetória de Billy poderia estar contida numa boa coletânea de singles, mas, o que o faz diferente da maioria dos artistas de sucesso fugaz é a alta qualidade de algumas dessas composições, quase sempre dele e do fiel escudeiro, Steve Stevens. Hits como “Eyes Without A Face”, “Dancing With Myself”, “Rebel Yell”, “Cradle Of Love” e até uma cover surpreendente para “LA Woman”, dos Doors, deixam a gente ainda curioso para saber se Idol vai reeditar alguma faísca de antanho. A julgar pelas nove canções inéditas deste novo álbum, a resposta é não. E sim.

 

Billy deu um passo estudado com este novo álbum. Chamou Tommy English pra produzir, um cara que circula nos estúdios de gente como Kacey Musgraves, grupos novos, compõe, toca e joga nas onze. É jovem e tem a linguagem do que se chama pop-punk hoje, quase um território todo feminino, dominado por Olivias Rodrigo da vida. Pois bem, Billy recrutou Avril Lavigne, para duetar em “77”, que, a julgar pelo título, é uma das muitas canções saudosistas do álbum. Além dela, estão presentes Alison Mossheart, do duo The Kills, e a veterana/venerável Joan Jett, em “John Wayne” e “Wildside”, respectivamente. E a banda que está no estúdio é respeitável – além de Stevens na guitarra (e ele ainda manda muito bem), temos Chris Chaney (baixista que foi do Jane’s Addiction e hoje excursiona com o AC/DC), Josh Freese (baterista que tocou em turnês com o Devo desde 1996 e foi efetivado no Foo Fighters em 2023). Mas a velha tendência de Billy acertar no alvo menos do que deveria está presente. A maioria das faixas é frouxa, mas há duas exceções.

 

Os duetos não convencem. Avril Lavigne, espécie de mãe das divas pop-punk de hoje, canta alto e estridente em “77”, numa canção que tem arranjo sob medida para aliar Idol com a dinâmica do estilo pós-milênio. O resultado é apenas ok. Em “John Wayne”, que fala do ator americano como um mito de longa carreira com percalços, o panorama é um pouco melhor, justo porque Alison Mossheart é uma vocalista mais interessante que Avril, mas o que temos é uma lenga-lenga pseudo-existencial que não sobrevive a uma leitura minimamente mais séria. E tem “Wildfire”, com Joan Jett, que é a melhor dentre as colaborações. O andamento é bacana, na medida certa e Jett ainda tem muita energia – mais que Idol – para cantar. De um modo geral, Billy se sai melhor em canções que tentam recuperar a dinâmica de sucessos de seu passado, tendo como “Rebel Yell” e “Dancing With Myself” como moldes. “Too Much Fun”, por exemplo, tenta recriar a segunda sem conseguir, mas tem um bom trabalho de guitarras e deve funcionar bem ao vivo.

 

Além dela, “People I Love”, que tem bom baixo de Chaney, fica um pouco abaixo, mas ainda passa de ano direto. Já a faixa-título naufraga em um problema que pudemos constatar na presença de Billy no Rock In Rio de 2022 – a voz em frangalhos. Nas faixas mais aceleradas fica mais fácil disfarçar esta limitação, mas as mais climáticas não perdoam. “I’m Your Hero” é um exemplo disso. Mas a grande canção presente aqui, sem dúvida alguma, é a faixa de encerramento, “Still Dancing”, que é uma cacetada incandescente e que decalca totalmente “Rebel Yell” (com direito a citação do solo de guitarra e tudo) e traz Idol vociferando contra o passado, o presente, dizendo que ainda dá conta do recado, que ainda tem lenha pra queimar, que o mais importante é jornada. É uma declaração de vida. Se as outras faixas do álbum tivessem essa mesma pegada, ele seria um dos pontos mais altos da carreira de Idol. Mas não é o caso.

 

Os fãs do cantor devem se apegar às qualidades que “Dream Into It” traz. É mais um capítulo dessa carreira aleatória, mas que tem inegáveis momentos de brilho. Se fosse apenas a última canção, com “Too Much Fun” de lado B, seria um dos singles mais bacanas do ano.

 

 

Ouça primeiro: “Still Dancing”, “Too Much Fun”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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