Velhos conhecidos lançando discos novos – e bons
My Morning Jacket – is
39′, 10 faixas
(ATO)

Quando surgiu, lá na virada dos anos 1990/2000, o My Morning Jacket era uma banda que misturava tonalidades clássicas do folk rock com inspirações modernas, procurando criar algo novo e original. Com o passar do tempo e dos álbuns, o grupo, liderado por Jim James, foi assimilando mais e mais influências pop e foi deixando para trás as tais tinturas clássicas, especialmente de inspiração em Neil Young. Seu décimo álbum, “is”, é um produto quase que eminentemente pop, no sentido de exibir uma sonoridade que não estaria deslocada em algum ponto dos anos 1980, chegando a lembrar até Hall & Oates ou o Fleetwood Mac daquela época na boa faixa “Everyday Magic”, certamente uma mudança inesperada. E na faixa seguinte, “I Can Hear Your Love”, o arranjo tem uma linha de baixo eminentemente reggae, certamente uma mudança ainda mais inesperada. Tudo bem que James assegura bom gosto e competência na composição e seus vocais ainda fazem a diferença, mas, se o fã de MMJ ainda está esperando algo que responsa a esse objetivo de transformação do folk rock mais clássico, é melhor esquecer. Isso não significa que “is” seja um disco ruim, pelo contrário. Ele só é … diferente. Mas desce redondinho.
Ouça primeiro: “Half A Lifetime”, “Everyday Magic”, “I Can Hear You Love”
The Darkness – Dreams On Toast
33′, 10 faixas
(Cooking Vinyl)

Quando surgiu na virada do milênio, o Darkness era uma ótima piada. Em meio a bandas se achando malandras e relevantes, quase todas do nu-metal ou dos filhotes do Radiohead, os ingleses propunham a revisita vigorosa dos clichês do hard glam rock do fim dos anos 1980 ou, vá lá, de meados dos anos 1970. Nada poderia soar mais anacrônico e, por isso, interessante e curioso. Fizeram muito sucesso com seus dois primeiros álbuns, “Permission To Land” (2003) e “One Way Ticket To Hell” (2005) e encerraram atividades para retomá-las sete anos depois, lançando “Hot Cakes” (2012). É a velha história, a cultura pop muda, a sociedade vai junto e, a partir daí, o Darkness deixou boa parte de seu charme de lado, investindo com mais afinco na parte musical da coisa. Ou seja, se tornou uma boa – e confiável – banda de hard rock farofa em plenos anos 2020. É uma espécie de Jurassic Park musical, mas quem se importa? As canções são boas, as pitadas de Queen, AC/DC e quejandos nas cançoes funcionam e, de tempos em tempos, eles se saem com ótimas faixas, caso aqui das encrespadas “I Hate Myself”, “Mortal Dread” e “The Longest Kiss” (esta com toques de ELO) ou da balada folkie à la Queen, “Hot On My Tail”. Funciona e diverte.
Ouça primeiro: “I Hate My Self”, “The Longest Kiss”, “Hot On My Tail”, “Mortal Dread”
Doves – Constellations For The Lonely
45′, 10 faixas
(Universal)

Sempre achei o Doves uma espécie de primo mais reflexivo, dark e complexo do Elbow. Mas, assim como seu par mais famoso, Doves é um grupo que dá umas ciscadas no terreno do progressivo e flerta com nuances – cada vez mais sutis – do Coldplay inicial e do Radiohead noventista, sem dúvida, uma sonoridade que está meio caduca mas que ainda cativa muita gente, especialmente na sua Inglaterra natal. Se entre 2000 e 2009, o Doves lançou quatro bons discos, especialmente a estreia, “Lost Souls”, entre os anos seguintes, apenas “The Universal Want” (2020) veio a público, indicando um hiato que parecia se estender para sempre. O vocalista Jimi Goodwin enfrentou problemas complexos de saúde mas o grupo manteve-se unido e solta este simpático “Constellations For The Lonely”. A ideia aqui é manter viva a fórmula original, talvez atualizando-a um pouco, o que não muda muito o panorama final das canções. O single “Renegade” é um ótimo exemplo de boa canção, bem pensada e bem gravada, com ótimo arranjo. Outras faixas como “Saint Teresa” e “In A Butterfly House” seguem com firmes com a receita, acrescentando um pouco de drama aqui, de sentimento ali e tudo bem.
Ouça primeiro: “Renegade”, “Saint Teresa”, “In A Butterfly House”
Mumford & Sons – Rushmere
34′, 10 faixas
(Universal)

Houve um tempo em que o Mumford & Sons era uma das mais interessantes e promissoras bandas do planeta. Foi logo quando surgiu, quando misturou folk e instrumental tradicional americano em um amálgama pop palatável tanto para puristas quanto para o público que lotava estádios. Com canções cheias de nuances, refrões bombásticos e uma atitude convincente, os Mumfords tiveram seu tempo e, ao tentar modificar um pouco seu som, a partir do terceiro álbum, “Wilder Mind”, perderam um pouco do gume. Tentaram recuperar terreno e prestígio com o trabalho seguinte, “Delta” (2018) e sumiram logo depois. Ano passado soltaram uma coletânea – disponível apenas no digital – e agora se reagrupam para voltar aos palcos e turnês com este com “Rushemere”. A ideia é, nitidamente, seguir na recuperação de sua sonoridade mais regional e mantê-la temperada com nuances pop. O que sempre jogou a favor dos sujeitos foi o talento que o vocalista e líder, Marcus Mumford, tem nas composições. “Rushmere” está cheio de momentos que vão recuperar a confiança dos velhos fãs, como as belas e acústicas “Anchor” e “Monochrome”, a faixa-título e o hit “Malibu”. Bom retorno.
Ouça primeiro: “Rushmere”, “Monochrome”, “Anchor”, “Malibu”.

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.