Treze Canções Insuportáveis dos anos 1990

 

 

Dia desses postei no meu perfil pessoal do Facebook um comentário sobre como é ruim a canção “What’s Up”, do grupo americano 4 Non Blondes. A maioria das pessoas que comentaram a postagem acabaram por concordar, mas alguns defensores da importância do grupo de San Francisco, ou mesmo da canção, que se tornou um hit capaz de desbravar décadas, me fez pensar que talvez fosse interessante revirar um pouco a memória e apontar aqui algumas outras composições noventistas cuja audição se tornou praticamente insuportável.

 

Para tal, estabeleci alguns critérios. Não foram consideradas hits chicletes intencionais ou canções bobinhas, como, sei lá, “Barbie Girl”, do Aqua; “I’m Scatman”, de Scatman John; “Cinema” de Ice MC, “Ice Ice Baby”, do Vanilla Ice, ou coisas do gênero, muito porque estas gravações têm um elemento que as salva do desastre da insuportabilidade – não se levarem a sério. No meu juízo, tal qualidade meio que redime a chatice e coloca a gravação num terreno meio lúdico, meio qualquer coisa, num processo que atenua – pelo menos para mim – a irritação com alguma canção.

 

Por isso, as escolhidas, via de regra, são gravações que se levam a sério, que têm uma mensagem ou que foram apropriadas pelo público de um jeito tal que viraram “hinos” ou transcenderam o âmbito de sua banda ou artista criador, na base do “se tem um show do Fulano ou da Banda X, eles TÊM que tocar a música tal”.

 

Outro quesito de escolha é a completa e total ruindade da gravação em si. Isso, sabemos bem, é algo bem subjetivo e, como em qualquer lista, você tem todo o direito de não concordar e de apontar – ou não – as suas escolhidas.

 

Também estão isentas de julgamento canções intencionalmente horrorosas. A gente quer apontar as músicas que se tornaram insuportáveis por vários motivos, não porque foram, de propósito, pensadas e concebidas assim.

 

Vamos à relação de insuportabilidade total, sem ordem específica. Todas aqui são terríveis.

 

 

“What’s Up” – 4 Non Blondes (1993) – seja pelo refrão, seja pelo clima neohippie de boutique da banda, esta canção tornou-se rapidamente insuportável já no ano de lançamento do seu único álbum “Bigger, Better, Faster, More!”, que passou batido do grande público. Em essência, é um álbum de pós-grunge decalcado, com Linda Perry no comando, ela que tentou uma carreira solo que não decolou e achou espaço compondo para cantoras como Pink ou Christina Aguilera, enveredando para a área cinematográfica tempos depois. Como trata-se de uma canção pop grudenta, “What’s Up” é sempre lembrada em shows-tributo, escolhida para cover, coisas do gênero, o que só aumenta seu potencial infinito de irritabilidade total.

 

 

 

“Sweet Child O’Mine” e “Dyer Maker” – Sheryl Crow (1999 e 1994) – cover vale, desde que seja tão insuportável a ponto de incomodar realmente. Sheryl Crow é uma artista bacana, tem ótimos discos lançados, mas, no quesito de versões noventistas, falhou miseravelmente. A releitura folkinha do grande hit do abominável Guns’n’Roses, entrou para a trilha sonora do filme “O Paizão”, estrelado por Adam Sandler. Mais tarde, foi parar na trilha de “Capitão Fantástico”, ou seja, dois longas abomináveis, que só contribuíram para referendar a ruindade da versão de Sheryl e – é bom que se diga – do original do Guns, que só não entrou aqui porque é de 1988. A releitura para “Dyer Maker”, do Led Zeppelin circa 1973, é menos irritante, mas foi apropriada por todo um inconsciente coletivo de cantorinhas noventistas em busca de identidade, entre elas, Claudia Leitte, o que só ampliou o potencial de inaudibilidade da versão de Crow. O original de Page e Plant segue audível, mas é recomendável evita-lo mesmo depois de tanto tempo. De fato, é uma das canções menos interessantes de toda a carreira do Led.

 

 

 

 

 

“Californication” – Red Hot Chili Peppers (1999) – esta canção já era insuportável no ato de lançamento do disco que leva o seu nome, que marcou a versão banalizada e fraca de uma banda que era forte e inovadora. A partir daí, os Chili Peppers tornaram-se patrimônio de toda uma sorte de playbas ao redor do mundo, com uma receita que incluía acomodação, largação sonora e a perda gradativa do potencial funk-rock que havia marcado sua trajetória até o álbum anterior, o ótimo e oblíquo “One Hot Minute”, de 1995. Desde então, o grupo californiano limita-se a repetir esta fórmula anestesiante de tempos em tempos e tudo parece estar ok para seus fãs.

 

 

 

 

“Last Kiss” – Pearl Jam (1999) – esta gravação tem uma atenuante que quase a tirou desta lista: ela fez parte de um disco em benefício das vítimas da guerra no Kosovo, o que, sem dúvida nenhuma, é um gesto bacana. Não espanta muito, visto que o Pearl Jam é uma banda com inclinações humanitárias e ecológicas desde sempre, porém, o que era para ser apenas uma graciosa cover de uma obscura baladinha sessentista, tornou-se um leviatã de proporções tão grandes, que até Caio Ribeiro, o comentarista global de futebol, então em fase decadente de sua carreira como jogador, a citou como “trilha sonora ideal para transar”. Sem falar que esta é uma daquelas composições que padecem do erro essencial de interpretação básica do inglês, levando muitos casais brasileiros a acharem que trata-se de uma cançãozinha de amor, quando, na verdade, a letra fala sobre um acidente de trânsito que matou a mocinha do casal. O resto é história.

 

 

 

 

“Mr Jones” – Counting Crows (1994) – esta canção entra aqui na base do “on demand”. Eu confesso que já gostei bastante dela, do disco em que ela está – “August And Everything After” – e da própria banda Counting Crows, liderada pelo vocalista inquieto Adam Duritz. O tempo, porém, me fez perceber que esta gravação é uma lenga-lenga verborrágica envolta num arranjo que chupisca andamentos retirados de “Brown Eyes Girl”, sucessão americano de Van Morrison, safra 1968. Duritz é esperto o bastante para inserir um letra surreal-pessoal, com citações a pintores clássicos, situações mundanas e existenciais, que grudam na mente dos mais desavisados. Não caia nesta.

 

 

 

 

“I’ll Be Missing You” – Diddy (1997) – a picaretagem total no uso do sample de “Every Breath You Take”, do Police (com anuência total do Sting), o clima de despedida em relação ao rapper Notorious BIG, então recém-falecido e a quem a canção é dedicada, e o deslumbre de todo um público meio bobão, responsável por esta canção tenha mais de 300 milhões de audições apenas no Spotify, tudo isso é razão para o horror total que ela suscita. E apresentou ao público o tal de Puff Daddy, um rapper que já mudou várias vezes de nome, sempre reduzindo-o com resultados risíveis. Hoje, por exemplo, ele se chama de Diddy. Ah, vá.

 

 

 

 

“More Than Words” – Extreme (1990) – não adianta – muita gente vai discordar desta escolha, seja porque acha o guitarrista português Nuno Bettencourt um gênio incompreendido ou porque pensa que o vocalista Gary Cherone é subestimado. O fato é que o Extreme foi uma banda de apenas um hit – este – e que, sim, é uma canção enjoativa e facilmente irritante. Tudo bem que ela teve seu tempo, mas tornou-se vala comum no terreno das bobaladas da época e hoje habita a mente de seres empedernidos e saudosos de algo que não aconteceu. Chega.

 

 

 

 

“Mmm Mmm Mmm Mmm” – Crash Test Dummies (1993) – talvez esta seja a menos conhecida canção da lista, mas ela já nasceu insuportável. Seja pelo título, seja pelo tom grave-grunge do vocalista, seja pelo fato dela ter feito muito sucesso na época, tudo aqui é péssimo e inaudível. O disco em que esta canção aparece – “God Shuffled His Feet” – é um dos campeões de presença em sebos desde sempre. Ou seja, muita gente comprou, muita gente detestou.

 

 

 

 

“Learning To Fly” – Foo Fighters (1999) – esta foi a canção que puxou o terceiro álbum do Foo Fighters, “There Is Nothing Left To Lose”, que marca a ascensão da banda ao patamar de “unanimidade do senso comum rock” no qual se encontra até hoje. É um rock de guitarras banal, decalcado da fórmula que Bob Mould inventou quando estava iniciando sua carreira solo. A destacar aqui, justiça seja feita, a habilidade de Dave Grohl tanto na direção do clipe quanto na repetição ad nauseam desta fórmula, apropriando-se dela e uniformizando o som do grupo para todo o sempre, num ciclo que só foi quebrado ano passado, quando lançaram o disco mais recente, “Medicine At Midnight”.

 

 

 

 

 

“Wonderwall” – Oasis (1995) – ela foi a faixa que puxou o ótimo segundo disco da banda, “What’s The Story, Morning Glory”, e logo tornou-se um sucesso mundial, algo que o Oasis não havia conseguido até então. A melodia é bem feita, mas “Wonderwall” revelou um padrão de semibalada que os irmãos Gallagher repetiram à exaustão a partir daí. Com o tempo, a canção virou um hino de rádios rock e de habitantes do senso comum roqueiro médio, o que a vitimou completamente. Hoje é uma das mais inaudíveis canções disponíveis por aí.

 

 

 

 

“My Heart Will Go On” – Celine Dion (1998) – tenho especial ranço desta canção, inserida na trilha sonora de “Titanic”, não só por ela ser uma balada com pé pesadíssimo na sacarina incessante, mas por ter derrotado a belíssima “Miss Misery”, canção que Elliott Smith compusera para a trilha sonora de “Gênio Indomável”, na disputa do Oscar de Melhor Canção de 1999. O resto fala por si, é uma das mais pedidas em casamentos, batizados, quermesses, festas aleatórias de casais, bodas em geral e deve ter alguma versão sertaneja, a qual ignoro, felizmente.

 

 

 

 

“I Will Always Love You” – Whitney Houston (1992) – se “Titanic”, ao menos é um filme bacana, o mesmo não pode ser dito do terrível “O Guarda-Costas”, que trouxe Kevin Costner no papel principal, no qual ele vai trabalhar para uma cantora famosíssima, que está recebendo ameaças de morte sinistras. O roteiro é péssimo, as atuações são risíveis e a canção é um monstro de sacarina sem qualquer noção. Evite a todo custo, se puder.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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