44 Canções Nacionais Insuportáveis anos 2000

 

 

Em primeiro lugar, peço desculpas pelo tamanho da lista. Confesso que não esperava um contingente tão grande de canções nacionais insuportáveis na primeira década do século 21, porém, uma olhada nelas vai comprovar que seu lugar é aqui mesmo. E mais: muitas outras canções ficaram de fora. Algumas – como “Musa do Verão”, de Felipe Dylon, por exemplo – ainda que totalmente insuportáveis, foram esquecidas e mantidas apenas naquela época. Lembrem-se que esta lista é sobre canções que transcendem o tempo, que nos chegam onde e quando estamos e trazem consigo aquela “imagem de seu próprio tempo”, servindo como etiquetas.  Nada pode ser mais insuportável, confessem.

 

Mas há algumas outras canções aqui que foram descobertas no contexto de outras que já estavam separadas por conta de sua insuportabilidade. Como não incluir covers de “Summertime” (Tihuana) e “Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores” (Charlie Brown Jr), gravadas naquela década, de maneira absolutamente descabida, e que – felizmente – ficaram para trás? A gente lembra que elas existiram. E relembra de outras tantas canções péssimas que foram compostas naqueles dez anos. Fazendo um apanhado geral, o Jota Quest é campeão absoluto da lista, com oito canções incluídas aqui, seguido pelo Tihuana, com seis. Ana Carolina e Seu Jorge surgem num campeonato à parte, no qual eles, além de colocarem músicas na lista – duas cada um – colocam, juntos, um disco inteiro – “Ana e Jorge”, de 2005. Mas o cantor e compositor gonçalense ainda consegue se superar, cravando um outro álbum, desta vez solo – “The Aquatic Sessions” – no qual ele trucida sem dó várias canções de David Bowie. Fora isso, confesso que imaginei que Capital Inicial e Charlie Brown Jr iriam cravar mais canções na lista e que subestimei o álbum do Tihuana, que forneceu seis faixas para esta relação – e poderia ter cravado mais. De resto, concordem, discordem, destruam, cultuem a lista, mas passem adiante!

 

 

– Charlie Brown Jr – Só Os Loucos Sabem (2009)
– Lutar Pelo Que É Meu (2009)
– Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores (2005)

Trinca de canções terríveis da banda santista, que, nesta altura da carreira, já dava sinais evidentes de esgotamento de estética e temática – aquele rock’n’reggae frouxo com pitadas de guitarras pesadas e a verborragia de anticoach de Chorão, falando sobre o que ele conseguiu, o mérito dele, a luta dele, enfim, um culto à personalidade do vocalista da banda. De quebra, esta imperdoável cover de Geraldo Vandré, um verdadeiro horror, do qual não se salva absolutamente nada.

 

 

 

– Armandinho – Desenho de Deus (2007) – Esta canção meio que popularizou no país o modelo “Planeta Atlântida”, notório festival gaúcho, que sempre teve popularidade no sul do Brasil, mas ficava por lá mesmo. Armandinho veio numa onda meio Jack Johnson, meio namastê, meio gratiluz-antes-do-gratiluz, com esta canção risível sobre um amor tão lindo que só poderia ser um … desenho de Deus.

 

 

 

– Maria Gadu – Shimbalaiê (2009) – Maria surgiu para o país com uma aura de nova cantora mas logo aderiu ao cânone de Caetanos e Gils e tais. Este seu primeiro sucesso ultrapassa a conivência da liberdade estética e derrapa feio no uso das palavras próprias. Ficou na memória como algo muito, muito ruim.

 

 

 

– Bonde do Tigrão – O Baile Todo (2001) – Eu morava em Macaé, no norte do estado do Rio e lá havia algo curioso. Todos os anúncios feitos em carros com alto-falantes usavam esta música como tema. Fosse papelaria ou funerária. O fato é que “O Baile Todo” marcou uma popularização do funk carioca em nível nacional, porém, olhando para trás, dá pra termos vergonha dela.

 

 

– Detonautas – Quando O Sol Se For (2003) – Confesso que me surpreendo com a longevidade dos Detonautas, que vão comemorar 20 anos de carreira ano que vem. Essa música é péssima, lembra Malhação, é pobre esteticamente, chupinha várias outras bandas gringas e nacionais que vieram antes e fizeram o mesmo hardcorezinho romântico que dá muita, mas muita preguiça.

 

 

 

– Jota Quest – Tele-fome (2000)
– Dias Melhores (2000)
– O Que Eu Também Não Entendo (2000)
– Na Moral (2002)
– Só Hoje (2002)
– Do Seu Lado (2003)
– Além do Horizonte (2005)
– Dias Mejores (2010)

 

É campeão! Nem poderia ser diferente. O grupo mineiro ganhou fama e notoriedade nacionais ao custo de uma adesão total ao pior e mais frouxo pop comercial com pitadas de funk estilizado de branco sem noção. A isso somamos a verve de Rogério Flausino com letras de autoajuda, de amor flácido e uma existência privilegiada e temos a fórmula jotaquestiana para encantar multidões. Algumas canções dessa lista são absolutamente terríveis, como “Tele-Fome”, “Na Moral”, “Dias Melhores” (que entrou também na tétrica versão em espanhol) e “Do Seu Lado”, esta um verdadeiro crime lesa-pátria.

 

 

– Zeca Baleiro – Proibida Pra Mim (2000) – Gostamos de Zeca, claro, mas esta cover literata de Charlie Brown Jr com ares renascentistas, espertos e descolados envelheceu muito, mas muito mal. Não poderia passar em branco por aqui.

 

 

 

– Capital Inicial – À Sua Maneira (2002) – Eu confesso que esperava mais do Capital nesta lista. Porém, a música que está aqui, uma versão frouxa e indigente de “De Música Ligera”, do grupo argentino Soda Stereo, não bastasse ser péssima, ainda rouba a ideia dos Paralamas do Sucesso, que a coverizaram seis anos antes, em 1996, com a boa “De Música Ligeira”, de seu álbum “Nove Luas”. Péssimo, terrível.

 

 

 

– Skank – Vou Deixar (2003) – O Skank deu sua “guinada beatle” no início do século 21 e perdeu boa parte de seu charme. Esta canção aqui, no entanto, tornou-se uma espécie de hino do desapego, uma encerra-shows, executada em todos os cantos, por todo mundo, a qualquer hora. E isso é muito ruim porque ela é, basicamente, um refrão infeccioso sendo repetido continuamente. Não dá, gente.

 

 

 

– Titãs – Epitáfio (2002) – Esta canção é bastante triste e grudou nas mentes das pessoas, passando a ser evocada em reuniões, celebrações, batizados, casamentos, declarações de amor e tudo mais. Ela é decalcada completamente de um texto apócrifo, atribuído a Jorge Luis Borges.

 

 

 

– Pitty – Equalize (2003)
– Admirável Chip Novo (2003)

O sucesso de Pitty, totalmente decalcado da banda americana Evanescence, foi bem grande. As canções de seu primeiro disco, “Admirável Chip Novo”, misturam um rock frouxo e pós-grunge, com um vocal sofrível e letras pseudo-esclarecidas e espertas, que colaram na mente de uma geração de meninas e meninos em busca de orientação. Estas duas canções sintetizam o que há de pior nessa proposta e abriram o caminho para Pitty cometer mais atrocidades sonoras nos anos seguintes.

 

– O Surto – A Cera (2000)
– Triste Mas Eu Não Me Queixo (2001)

Não bastasse o horror que é “A Cera”, notabilizada pelo uso da expressão “que me pirou o cabeção”, os cearenses d’O Surto, na verdade um sub-Charlie Brown Jr com toques de Mamonas Assassinas (vejam que DNA) ainda foram convidados para o Rock In Rio de 2001 (!!!!) e se apresentaram executando uma versão criminosa de “Californication”, dos Red Hot Chili Peppers, com o título substituído por “triste mas eu não me queixo”. Esta versão nunca foi gravada em estúdio pela banda (arrependimento?) mas ficou eternizada nos Youtubes da vida.

 

 

– Tribalistas – Já Sei Namorar (2002)
– Velha Infância (2002)

o “supergrupo” formado por Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown nasceu com uma aura de núcleo rico de novela do Manoel Carlos, muito carioca, muito Leblon, muito aspirando a ser uma síntese do Brasil feliz e que importa. Muita referência a Novos Baianos, uma busca de um pop nacional com pedigree e estirpe, que, no entanto, só serviu para mostrar que o trio precisava de melhores composições. Além do mais, o Tribalistas sempre pareceu uma versão pálida da Marisa Monte solo.

 

 

– Jorge Vercillo – Homem Aranha (2002)
– Que Nem Maré (2002)

O surgimento de Jorge Vercillo veio preencher uma lacuna que ficou quando Djavan gravou seu sucesso “Eu Te Devoro” (incluída na lista de piores canções nacionais dos anos 1990). Aquele pop com certa sofisticação foi a pedra de toque para Vercilo (era com um L só nesta época) aparecer e dominar as paradas com estas duas canções, que, sinceramente, tinham péssimas letras, mas uma execução boa em estúdio. Elas estão aqui porque apresentaram o sujeito para o país e porque dominaram a mídia em seu tempo. Fracas, passáveis, mas ficaram.

 

 

– Ana Carolina – Quem De Nós Dois (2001)
– Encostar Na Tua (2003)
– É Isso Aí (com Seu Jorge) (2005)
– todo o álbum Ana e Jorge (2005)

Uma das mais importantes participantes de listas de piores artistas brasileiros, Ana Carolina está bem representada aqui com três canções, uma parceria e um álbum dividido com outro monstro desse tipo de publicação, Seu Jorge. Sua voz grave, forçada,  suas composições fracas, arranjos pop que se acham sofisticados e uma pretensão enorme são os pontos principais da obra de Ana Carolina. Começou como uma sub-Cássia Eller e avançou pelas décadas seguintes, alçada à condição de “grande cantora” da música nacional. Fala sério. “Quem de Nós Dois” é um crime contra a bela “La Mia Storia Tra Le Ditta”, do italiano Gianlucca Grignani, que já fora vertida para o português com muito mais propriedade pelo cantor e compositor niteroiense José Augusto. “Encostar na Tua” é um exemplo clássico do romantismo superficial carolineano e “É Isso Aí”, bem, essa é uma poderosa arma de destruição em massa, puxando o tétrico álbum “Ana e Jorge”, campeão mundial de ruindade neste lado da galáxia.

 

 

– Zeca Pagodinho – Deixa A Vida Me Levar (2002) – Zeca é um patrimônio da música brasileira, gente boa, caxiense e ser humano superior. Mas. Mas….maaaaaaas, essa canção aqui, apropriada pela seleção do penta, pelo Ronaldinho Gaúcho e por qualquer um que queira exaltar sua situação frente o imponderável da vida. Não dá mais. Foi mal, Zeca.

 

– Ivete Sangalo – Festa (2001) – Esta é outra canção apropriada pela seleção do penta, mas, ao contrário de “Deixa A Vida Me Levar”, não há qualquer atenuante. É apenas a visão “Brasil miscigenado e feliz” com toques de funk estilizado e a interpretação de Sangalo, então em seu terceiro disco solo. Não dá mais. Não dá.

 

 

 

– Dallas Company – Clima de Rodeio (2002) – Esta canção nem deveria está aqui, mas foi “imortalizada” num dos primeiros BBBs e grudou na mente de todo mundo, levando o Brasil a cantar versos como “quem gosta de rodeio bate forte com a mão”.  E ainda tem uma versão … remix. Não, não, gente.

 

 

 

– Latino – Festa no Apê (2004) – Latino, ele mesmo, bolsonarista fervoroso, era uma espécie de hitmaker nasty no início dos anos 2000. O cara alavancou a carreira da ex-mulher, Kelly Key, e, para não ficar atrás depois do pontapé que levou, voltou, quatro anos depois, para arrombar a banca com esta canção, na verdade, uma versão de um cantor … romeno. O nível de ruindade aqui alcança uma escala Chernobyl de horror total.

 

 

 

– NX Zero – Razões e Emoções (2006) – A “mais séria” das bandas emo nacionais, provavelmente a mais bem sucedida e a que problematizava com mais “maturidade” as questões emocionais. Indicada para fãs que não atingiram ainda a maturidade mínima, em torno dos 14, 15 anos. Horror com produção frouxa querendo ser banda americana.

 

 

 

– Falamansa – Rindo À Toa (2000) – Lembram do … forró pé de serra? Ou do forró universitário? Pois foi o Falamansa o responsável por estes rótulos e por este tipo de som. Uma versão pálida e pasteurizada do ritmo nordestino. Tocava em todos os lugares e o refrão irritante colocou como chiclete sem gosto.

 

 

 

– Seu Jorge – Burguesinha (2007)
– Mina do Condomínio (2007)
– todo o álbum The Aquatic Sessions (2005)

Mais um mestre absoluto de listas de ruindade nacionais. Aqui ele surge com dois colossos do péssimo pop carioca, dois sambinhas descolados, ideais para sonorizar festas publicitárias que não têm a menor conexão com qualquer origem do estilo. “Burguesinha” é mais uma canção-release para este tipo de personagem feminino desfilar nos sambas por aí afora e “Mina do Condomínio” é um atentado ao samba-rock. E, bem, o disco de versões de canções de David Bowie deveria ser proibido pela Corte Internacional de Haia.

 

 

– Vanessa da Mata – Ai Ai Ai Ai Ai (2004) – Vanessa é boa cantora, ainda que tenha perdido um pouco do jeito nos últimos trabalhos. Esta canção, no entanto, presente no ótimo “Essa Boneca Tem Manual”, é um horror sem limites e foi apropriada por uma juventude namastè-burguesa, para sonorizar incursões em universos estilísticos fora dos prédios luxuosos de São Paulo ou Rio. E ainda ganhou inúmeros remixes, o que só piora tudo.

 

 

– Tihuana – Pula (2000)
– Tropa de Elite (2000)
– Que Vês? (2000)
– Eu Vi Gnomos (2000)
– Clandestino (2000)
– Summertime (2000)

Pense bem no Tihuana. Banda paulista, com guitarrista argentino, tentando fazer rock com pitadas de reggae e guitarras pesadas. Seu disco de estreia já seria péssimo por conter “Tropa de Elite”, tema do filme de José Padilha, que deu sobrevida ao grupo e à canção, anos depois de seu lançamento, mas ainda tinha a inacreditável “Eu Vi Gnomos”, a horrorosa “Que Ves” e a estúpida “Pula”. Mas, mas. Maaaaas, ainda temos covers inimagináveis, como “Clandestino”, de Manu Chao, completamente encaretada e … “Summertime”, dos irmãos Gershwin, imortalizada por gente como Billie Holiday, vertida para um português bestial e sem sentido. Um artefato perigosíssimo, terrível mesmo.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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